08 junho, 2011

Fotos do vulcão Puyehue

 
 

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via Uhull S.A. de simao em 08/06/11

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Já publicamos várias vezes fotos de erupção de vulcão, mas normalmente eram na Islândia ou em países longes. Dessa vez, um vulcão no Chile, que estava adormecido por 50 anos, resolveu acordar e jogar suas cinzas pela américa do sul. O Puyehue está em uma região ao sul do Chile, sua última erupção foi em 1960, 2 dias após um terremoto. Veja as belas fotos

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WinDS – Emulador de Nintendo DS

 
 

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via DownGratis - Downloads Grátis de Erika Soós em 08/06/11

WinDS   Emulador de Nintendo DSSe você quer jogar os games do DS e do Game Boy Advance, mas não tem o vídeo game, a dica é instalar um emulador no seu computador. Hoje em dia, um dos mais procurados é o WinDS Pro.

 

Começando a instalação

Para ter o WinDS Pro em seu PC é fácil! Basta instalar o programa em seu computador e adicionar um atalho na área de trabalho. Depois, você só terá o trabalho de clicar no ícone para abrir o emulador.

Assim que você iniciar o WinDS você vai ver a janela do programa. Lá estão os quatro emuladores que estão disponíveis no aplicativo, como os famosos Visual Boy e iDeas.

1, 2, 3, testando…

Você pode testá-los por dois ROMs gratuitos e que estão inclusos. Para fazer isso, clique no ícone da área de trabalho. Um deles é o SquareDS que testa os seus reflexos e faz com que você fuja dos objetos. Já o CrystalChase pede raciocínio e pede que você elimine os cristais do cenário.

 

Vídeo do WinDS

 

Informações:

Versão: 2011.5
Idioma: Inglês;
Tamanho: 12 Mb;
Licença: Grátis;

WinDS   Emulador de Nintendo DS

Você já conhecia este emulador? Se sim, o que acha dele? Compartilhe conosco.

WinDS – Emulador de Nintendo DS é um arquivo de: DownGratis - Downloads Grátis


 
 

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Stake Land – DVDScr AVI + RMVB Legendado

 
 

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via De Graça é Mais Gostoso de Bruno em 08/06/11

Stake Land – DVDScr AVI + RMVB LegendadoFICHA TÉCNICA

Título Original: Good Luck Chuck
Título Traduzido: Stake Land
Gênero: Terror
Tempo de Duração: 98 min.
Ano de Lançamento: 2011
Direção: Jim Mickle
Tamanho: 700 Mb | 325 Mb
Qualidade: DVDScr | RMVB
Video e Audio: 9
Áudio: Inglês
Legenda: Português

Sinopse: A história segue um adolescente em um país invadido por vampiros. O jovem une o máximo de armas possíveis e recruta companheiros para ir embora do local. Durante a jornada, uma freira que faz parte da equipe enfrenta uma crise de fé e cria problemas, já que não consegue decidir se mata os inimigos ou se deixa se tornar uma das vítimas.

DVDRip XviD

Stake Land – DVDScr AVI + RMVB Legendado Stake Land – DVDScr AVI + RMVB Legendado Stake Land – DVDScr AVI + RMVB Legendado

Stake Land – DVDScr AVI + RMVB Legendado

RMVB Legendado

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Downloads Relacionados:

    Van Diemen's Land – DVDRip RMVB Legendado
    O Último Exorcismo – DVDSCR RMVB – Legendado
    Aposentados e Perigosos – DVDScr RMVB – Legendado


 
 

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17 fevereiro, 2009

Maio de 68: a última onda revolucionária que atingiu o centro do capitalismo

Valerio Arcary, professor do CEFET/SP, doutor em história pela USP e autor, entre outros livros, de As Esquinas Perigosas da História

Resumo

Na história das sociedades contemporâneas não houve nada mais legítimo do que as revoluções. Situações revolucionárias, como o maio de 68 francês, podem evoluir em radicalização para uma crise revolucionária – a hora da insurreição, quando a crise do regime cresce e precipita uma crise do Estado – ou podem refluir, e permitir a estabilização da dominação. O maio francês foi uma revolução política derrotada, pois o regime da V República sobreviveu, ainda que De Gaulle tenha permanecido no poder somente até abril de 1969. Mas, foi uma revolução. As revoluções em um país, sobretudo, quando vitoriosas, favorecem mudanças por reformas em outros. A burguesia européia, ao contrário de outras classes proprietárias na história, chegou ao poder através de revoluções e guerras civis, e aprendeu a temê-las. Não cede reformas econômicas ou sociais, senão para manter o poder político. Nos países onde o terremoto explodiu e foi contornado, e em outros, onde o perigo iminente alerta as classes dominantes. Mesmo as revoluções abortadas funcionam, historicamente, como um "alerta amarelo" para as classes dirigentes de que algumas concessões terão que ser aceleradas, para evitar um novo curto-circuito das relações político-sociais. As reformas podem ser econômicas, sociais, políticas ou culturais. Mas, as reformas não foram obra da contra-revolução: foram, essencialmente, um sub-produto da revolução. O impulso igualitário e libertário de 68 mantém-se como referência ideológica das novas gerações, porque demonstra que outras revoluções no centro do capitalismo são possíveis.

Se não houvesse senão uma chance sobre cem mil, uma ínfima probabilidade, eu apostaria mesmo assim(...) Eu tenho a paixão das causas difíceis, quase perdidas, quase desesperadas. É toda a diferença entre a falésia, confortavelmente sentada, contente de seu lugar, arrogante, condescendente consigo mesma, e a onda, que reflue, se retira, sem esquecer jamais de voltar à carga. Tu sabes quem, entre a falésia e a onda do mar, tem a última palavra?

Daniel Bensaïd [1]

Só há bons ventos para quem sabe onde quer chegar.

Sabedoria popular portuguesa

Melhor andar para trás, do que andar para frente na direção errada.

Sabedoria popular inglesa

Essa é uma briga particular, ou qualquer um pode participar?

Sabedoria popular irlandesa

Introdução

O maio de 1968 francês é um daqueles meses que fizeram história. Quarenta anos são um intervalo de tempo suficiente para podermos olhar o passado com sentido de perspectiva. Todos os anos têm doze meses, todos os dias têm vinte e quatro horas, mas os dias, os meses e os anos não são iguais entre si. Há horas que valem por meses, dias que valem por anos, e meses que valem por décadas, pela intensidade dos acontecimentos e suas conseqüências. Quando revoluções se colocam em movimento, a história se acelera, e tudo que parecia duvidoso se torna, subitamente, plausível.

Revoluções aconteceram, estão acontecendo e voltarão a acontecer porque mudanças eram, são e continuarão sendo necessárias. As forças de inércia das sociedades contemporâneas, contudo, foram, são e permanecerão sendo muito grandes, bloqueando até as transformações pela via de reformas. Foi o reacionarismo das classes dirigentes que, invariavelmente, emperrou as reformas e empurrou as massas na direção da revolução. As revoluções em um país, todavia, sobretudo se vitoriosas, favorecem mudanças por reformas. Nos países onde o terremoto explodiu, e em outros. Mesmo as revoluções abortadas funcionam, historicamente, como um "alerta amarelo" para as classes dirigentes de que algumas concessões terão que ser aceleradas, para evitar um novo curto-circuito das relações político-sociais (Draper,1978). As reformas podem ser econômicas, sociais, políticas ou culturais. A extensão do direito de organização sindical, ou a universalização do voto nas décadas finais do século XIX, na França, mas também na Alemanha, por exemplo, seria inexplicável sem a Comuna de Paris de 1871. A consagração do salário mínimo, ou as preocupações keynesianas com o desemprego seriam incompreensíveis sem a revolução de Outubro de 1917, e o perigo de novos Outubros. Separar o que foi a obra da revolução, do que foi a política da contra-revolução, é um dos desafios mais importantes da historiografia.

O maio francês foi uma revolução política e, mesmo derrotada, abriu o caminho para reformas, entre elas, mudanças sócio-culturais progressivas que eram inadiáveis. Os direitos da mulher passaram a ser parte da agenda política: o direito ao divórcio, a legalização do aborto, a criminalização da violência doméstica, entre outros, encontraram reconhecimento legal, mais rápido ou mais lentamente, em inúmeros países. Os direitos da juventude, entre outros, foram, também, ampliados. Não deveria surpreender que muitos tenham se dedicado, nas décadas seguintes, a exorcizar o fantasma, ou o perigo, da revolução social anti-capitalista, aplaudindo as reformas político-culturais. Mas, as reformas não foram obra da contra-revolução: foram, essencialmente, um sub-produto da revolução.

O maio francês se desenvolveu, também, no contexto de uma vaga revolucionária internacional, a maior da segunda metade do século XX antes dos processos do Leste Europeu entre 1989-91, que fez tremer a ordem mundial: nas ruas de Saigon se revelava para o mundo que o Império mais poderoso da história, militarmente, não poderia alcançar uma vitória no Vietnam; de Paris ao Rio de Janeiro, de Praga à Cidade do México, de Turim a Córdoba na Argentina, sem esquecer a nova situação dentro dos EUA e na Alemanha - só o Japão, na Tríade, escapou - e as batalhas decisivas das guerras de libertação nacional contra o Império Português na Guiné, Angola e Moçambique, em quatro continentes, a revolução abria frentes de combate.

Revoluções são surpresas históricas

Revoluções foram sempre uma surpresa histórica. Mas, na história, há surpresas e surpresas. Marx tinha acompanhado o movimento operário francês, com especial atenção, embora a influência dos proudonistas, nas alas mais moderadas, e dos blanquistas, entre as radicais, fosse superior à dos seus camaradas. Paris foi, afinal, a capital da revolução européia no século XIX por três vezes: em 1830, 1848 e 1871. Ao final da vida, Marx depositou esperanças em uma revolução que viria da Rússia, um dos últimos grandes Impérios autocráticos.

A república que surgiu da derrota da Comuna de Paris parecia ter consolidado o poder burguês por muitas gerações, e afastado a França do furacão revolucionário. Ao final da Primeira Guerra Mundial, a França, uma das potências vitoriosas, embora exausta, senão prostrada pelo esforço de guerra, foi poupada da onda revolucionária que sacudiu a Europa central e oriental. Na seqüência da crise mundial de 1929, a França chegou a viver a experiência de um governo de Frente Popular com Leon Blum, eleito em 1936, e uma situação revolucionária com a grande greve geral, mas as hesitações insuperáveis da SFIO (Seção Francesa da Internacional Operária) – a social-democracia - e do PCF (Partido Comunista Francês), associadas às dificuldades no cenário internacional – consolidação do nazismo na Alemanha, terror do estalinismo na URSS durante os anos dos julgamentos de Moscou, isolamento das forças revolucionárias na guerra civil espanhola – conduziram a uma inversão desfavorável da relação de forças entre as classes. As classes proprietárias francesas abraçaram uma perspectiva contra-revolucionária aberta: "mieux Hitler que le Front Populaire" (melhor Hitler, que a Frente Popular).

Depois do fim da Segunda Guerra Mundial, no entanto, não voltaram a se abrir situações revolucionárias nos países centrais, e a burguesia européia e seus representantes estavam confiantes que as revoluções eram turbulências do passado, características de uma época histórica superada, ou de países atrasados ou até exóticos, como Cuba. Mesmo entre os marxistas eram poucos aqueles que ainda apostavam nos desdobramentos de uma situação revolucionária nas metrópoles imperialistas, apesar das conseqüências desestabilizadoras das derrotas nas guerras coloniais, como no Vietnam e Argélia para a França. Empolgante e inesperado, o Maio de 68 francês demonstrou que revoluções ainda eram possíveis nas fortalezas da retaguarda do imperialismo contemporâneo.

O grande tabu do pós-guerra: a presença dos PC's em governos europeus

Na França, uma nova geração tinha chegado à vida adulta sem passar pela tragédia das guerras mundiais da primeira metade do século, mesmo se considerado os sacrifícios da juventude francesa nas guerras do Vietnam e da Argélia; o crescimento econômico, mesmo se financiado pelos investimentos norte-americanos – que deixavam a França e, de resto, toda a Europa, em uma posição complementar dentro do sistema internacional de Estados - era alimentado pelo peso da intervenção do Estado que aumentava os gastos militares: o capitalismo regulado não só tinha reduzido as taxas de desemprego, como se apoiava em uma crescente dependência de mão de obra emigrante; a extensão dos serviços públicos, mesmo se respeitadas as diferenças sociais consideráveis que ainda separava o padrão de vida dos trabalhadores das classes médias urbanas e rurais, tinha diminuído de forma significativa a mortalidade infantil, elevado a escolaridade e aumentado a proteção social dos idosos. Um otimismo histórico animava a sociedade, mesmo se considerado o perigo latente da guerra fria: os salários subiam lentamente, mas subiam, enquanto as pressões inflacionárias estavam sob controle; as necessidades mais intensamente sentidas – alimentação, moradia, transporte, educação, saúde – eram crescentemente satisfeitas; o consumo dos bens duráveis aumentava. Políticas keynesianas anti-cíclicas pareciam ter garantido a governabilidade política (Chesnais, 1997).

Mas, estas mudanças não foram suficientes para conter os estudantes – a primeira linha da nova geração - e não impediram que estes arrastassem atrás de si a maioria do povo: entre 14 e 27 de maio, a França foi sacudida por uma greve geral espontânea, porém, irresistível, talvez uma das greves gerais mais fortes da história e que se alastrou de norte a sul, paralisando o país. À sua frente estava a juventude operária que, rapidamente, forjou uma aliança com os estudantes. Não restou a De Gaulle alternativa senão convocar o Exército, e apelar, dramaticamente, ao medo da revolução: ameaçou a nação com o perigo da guerra civil, algo impensável somente um mês antes. Sabia que a chantagem é uma arma política poderosíssima. Contava com a hesitação do PCF e a obteve, como concluiu o insuspeito Hobsbawm: "o PCF condenou-se a si mesmo durante os dias cruciais de 27 a 29 de maio, esperando e lançando apelos. Mas, em tais ocasiões, a espera é fatal. Os que perdem a iniciativa perdem o jogo." (Hobsbawm, 1999)[2]

De Gaulle era consciente de que estava em jogo não somente o seu destino, mas um dos pilares da ordem do pós-guerra. Era preciso agir, e agir rapidamente para recuperar a governabilidade. Na França, ao contrário da Inglaterra, da Alemanha ou dos países nórdicos, onde a oposição - por dentro dos limites do regime político - se estruturava em torno de partidos socialdemocratas, a alternância eleitoral se expressava através da Frente Popular que tinha no PCF (Partido Comunista Francês) de George Marchais sua coluna vertebral. A presença de um partido comunista em um governo da NATO era ainda um tabu político. A proibição da presença dos PC's em governos na Europa ocidental era uma herança política das negociações entre Washington e Moscou ao final da guerra. Foi um dos artigos "pétreos" dos acordos de Yalta e Potsdam (Anderson, 1976). Só foi violado, depois do 25 de Abril de 1974, em Portugal.

A influência alcançada pelo PCF na luta contra a ocupação alemã, assim como o prestígio da URSS pelos sacrifícios gigantescos do exército vermelho na luta contra o nazi-fascismo, tinham transformado o PCF no principal partido de oposição e, portanto, no principal beneficiado, se De Gaulle viesse a ser derrubado. Mitterand tinha reorganizado a SFIO em um novo partido socialista, mas estava longe, em 1968, de ter uma posição hegemônica na oposição ao gaullismo. O PCF, ao contrário de Tito na Yugoslávia, tinha colaborado na estabilização do regime entre 1945 e 48 – Maurice Thorez foi ministro de De Gaulle – e, nos seus planos, em 1968, não constava qualquer veleidade de desafiar Moscou.

O PCF, todavia, não queria chegar ao poder antes da hora. Não queria uma revolução contra De Gaulle. Articulava, pacientemente, uma aliança eleitoral e aguardava. A direção do PCF sabia que revoluções não podem triunfar, se não estão dispostas a fazer a insurreição. Mas, insurreições precisam de uma direção. Esta foi umas das chaves de explicação para a posição attentiste ou de inércia (esperar para ver) do PCF e, portanto, pela sua falta de iniciativa em momentos decisivos dos combates de maio, e pela colaboração dos líderes sindicais da CGT, ao assinar e defender os acordos ao final da greve geral. O PCF estava disposto a chegar ao poder por eleições, nos marcos de um governo de colaboração de classes com aliados que tranqüilizassem a burguesia, mas não como resultado de uma revolução.

No Maio de 1968 francês se abriu uma situação revolucionária atípica, porque sem uma direção disposta a lutar até o fim para derrubar o governo, portanto, diferente das situações revolucionárias clássicas, como aquela que precedeu a revolução de Outubro da Rússia de 1917 – quando havia um partido disposto a tomar o poder, o bolchevismo - mas ainda assim uma situação revolucionária: o governo De Gaulle tremeu e quase caiu. Foi mais parecida com a situação revolucionária que precedeu a revolução de Fevereiro de 1917 na Rússia, embora esta tenha sido vitoriosa: de um lado, uma colossal irrupção da mobilização operária, popular e juvenil, em grande medida espontânea e, do outro lado, por algumas semanas, a divisão da classe dominante – rachada entre os que defendiam o uso da repressão e os que hesitavam – e a paralisia do Governo e das instituições do Estado e, entre estas duas forças, um deslocamento à esquerda da maioria das classes médias, elas, também, cindidas, entre os pequenos proprietários mais reacionários, e as novas camadas intermediárias com alta escolaridade, porém, assalariadas.

Um movimento estudantil admirável

Um novo movimento estudantil saiu às ruas em 1968 e, surpreendentemente, suas bandeiras eram vermelhas. Quando a repressão mostrou a verdadeira cara do governo De Gaulle – e, sem máscara, o que se viu foi estarrecedor – os estudantes foram para as portas das fábricas pedir o apoio do proletariado. Empolgaram a França e deixaram o mundo estupefato. Incendiaram o ânimo da maioria popular com sua imaginação política. Subverteram Paris. Os muros da cidade, que foi a capital cultural da civilização burguesa, foram cobertos com pichações, ao mesmo tempo, irreverentes e rebeldes, satíricos e amotinados como: "as mercadorias são o ópio do povo, a revolução o êxtase da história"; "Sejam realistas, exijam o impossível!" (Soyez réalistes, demandez l'impossible!); "Deixemos o medo do vermelho aos animais com cornos!" (Laissonz la peur du rouge aux bêtes à cornes!) "Corra camarada, o velho mundo está atrás de ti!" (Cours camarade, le vieuz monde est derriére toi!); "Os muros têm orelhas, vossa orelhas têm muros!" (Les murs ont des oreilles, vos oreilles ont des murs!); "O respeito se perde, não vão procurá-lo!" (Le respect se perd, n'allez pas le rechercher!).

A entrada em cena dos estudantes foi um fenômeno histórico-social inesperado. Como sempre, diante de acontecimentos novos, aqueles que não permitem analogias, há o perigo de exagerar ou diminuir seu significado. Ambos os excessos foram cometidos para exaltar ou criticar o movimento estudantil que, repentino, surgiu à luz do dia. Antes de 68, o movimento estudantil nunca jogou um papel tão destacado em qualquer outro processo revolucionário. Entre outras razões, porque nunca antes tinham existido tantos estudantes, em especial, tantos estudantes com uma origem social não-burguesa. Sessenta e oito foi um batismo de fogo internacional: na França e no Brasil, no México e na Argentina, e mesmo em Praga, os estudantes estiveram na primeira linha.

As transformações nas sociedades do pós-guerra – entre elas, a "explosão" demográfica, e a mais intensa urbanização e industrialização, mesmo de nações que eram capitalistas há séculos – exigiram uma mão de obra mais educada e alargaram o acesso ao ensino médio e ao ensino superior em uma escala qualitativa. O fenômeno geracional e social-cultural foi internacional, ainda que em proporções diferentes. Os jovens eram muito mais numerosos que no passado, e a entrada no mercado de trabalho passou a ser feita muito mais tarde.

Não só o número, mas, também, o peso social dos estudantes aumentou com o agigantamento das cidades universitárias: a audiência das classes médias às reivindicações estudantis aumentou e a repercussão do exemplo de suas lutas entre o povo, incluindo o proletariado, também. Em Paris, a solidariedade com os estudantes, depois do cerco da Sorbonne, foi espantosa. Entre o 3 e o 11 de maio, o entusiasmo entre os estudantes não pareceu de crescer e contagiou a nação. Nem De Gaulle, nem a ditadura brasileira sabiam como lidar com aquela massa de jovens: imaginavam, com razão que, se reprimissem, podiam acender o pavio de uma mobilização incontrolável; se não reprimissem, poderiam sinalizar fraqueza, e se desmoralizar diante de sua própria base social.

O dia que a Sorbonne foi vermelha

Os primeiros atos de grandes dramas históricos parecem, freqüentemente, triviais. A luta de classes na Europa assumia uma forma previsível, e mesmo na França, depois do fim da guerra da Argélia, seguia um ritmo contido: lutas, essencialmente, defensivas, e protestos de dimensões modestas, que reagrupavam uma vanguarda. A experiência política das massas estava presa nos limites da tática alemã: sindicalismo, eleitoralismo e porpaganda do socialismo para as calendas gregas. Mas, algumas prisões depois de um ato em solidariedade com a resistência no Vietnam foram o estopim de uma avalanche. Na seqüência, pouco mais do que uma centena de estudantes da Universidade de Paris-X, em Nanterre, na periferia de Paris, ocupou a sala do Conselho de Universidade.[3] O movimento estudantil estava engajado em uma campanha contra a reforma do ensino superio e, em Nanterre, enfurecido com a proibição dos jovens poderem frequentarem, livremente, as residências femininas e masculinas. Sim, lutavam pelo direito de encontros íntimos. Queriam fazer amor. Mas, não eram indiferentes à espetacular repercussão da Ofensiva do Tet que conseguiu hastear a bandeira vietcong no teto da embaixada americana em Saigon.

A ocupação se estendeu para a Sorbonne, e o reacionarismo e a soberba do governo De Gaulle – uma mistura sempre explosiva - o levou a cometer a provocação de lançar a polícia sobre o Quartier Latin (o bairro latino de Paris, no coração da capital). Não conseguiram, apesar de uma apocalíptica batalha campal, desalojar a massa de estudantes que se defendiam em improvisadas barricadas. O espírito das jornadas revolucionárias de 1848 e de 1871 parecia ter ressuscitado. Poucos dias depois, um milhão de pessoas desfilaram pelas ruas de Paris em solidariedade com os estudantes e contra o governo. Foi um terremoto político, que anunciava que um tsunami estava por chegar: na seqüência, o país entrou em greve geral por tempo indeterminado, portanto, greve geral política, porém acéfala, sem uma proposta de saída política para a crise. O movimento não levantava sequer uma proposta clara de deposição do governo.

Um fenômeno novo na Europa do pós-guerra: uma greve geral política apesar das direções dos sindicatos e contra as direções do PS e do PCF, ou seja, um processo, essencialmente, espontâneo, de rebelião operária-popular. Foi argumentado à exaustão que as massas não queriam fazer na Paris de 1968, uma Petrogrado de 1917. No maio francês, como de resto em todos os processos revolucionários da história, as massas não se lançaram à luta com um plano pré-concebido de como gostariam que a sociedade deveria ser. Os estudantes e operários franceses sabiam, porém, que queriam derrubar De Gaulle. Derrubar o governo é o ato central de toda revolução moderna. Quando descobriram a sua força social e política, no calor dos dias da greve geral, as massas populares francesas se moveram com instinto de poder. Seus dirigentes reconhecidos – porque a ação das massas em processos revolucionários está, geralmente, à frente ou à esquerda da sua consciência - ao contrário, esquivaram-se de responder à questão do poder. O desbordamento na ação dos aparelhos sindicais e políticos foi transitório. A crise política, que caminhava para se radicalizar em crise revolucionária, foi superada. O PCF não fracassou como partido revolucionário, mas como partido reformista (Touraine, 1969) . De Gaulle não caiu, imediatamente, mas, o regime tremeu. O mal estar foi desviado para os processos eleitorais que culminaram, mais de uma década depois, com a eleição de Mitterand, somente em 1981.

Uma vaga revolucionária mundial

O maio Francês esteve inserido na quarta onda da revolução mundial do século XX: a primeira teve como epicentro a revolução russa e se estendeu da Europa Oriental para a Central; a segunda sacudiu a Europa do Mediterrâneo depois da crise de 1929; e a terceira aconteceu na seqüência da derrota do nazi-fascismo. Entre 1968 e 1979/80 a dominação imperialista esteve seriamente ameaçada. Foi a mais internacional de todas as vagas revolucionárias, até hoje. O internacionalismo renasceu das cinzas com a solidariedade internacional ao Vietnam – uma campanha muito mais ampla que o apoio ao FLN (Frente de Libertação Nacional) na Argélia - e o repúdio mundial ao golpe de Pinochet.

A quarta onda da revolução mundial começou na Europa, como as anteriores – maio 68 francês, primavera de Praga e Outono quente italiano -, mas, esteve articulada com a situação na Ásia (ofensiva no Vietnam e internacionalização no Camboja) passou pela África – início da derrota militar portuguesa nas colônias africanas, em especial na Guiné - e chegou a ter uma refração na América Latina, onde o movimento estudantil se levantou pelas liberdades democráticas (México e Brasil em 1968), e o movimento operário se lançou a ações de massas radicalizadas (Cordobazo argentino em 1969, revolução chilena 1970/73). Em todos estes processos, o papel dos partidos comunistas disciplinados por Moscou foi, dramaticamente, em maior ou menor medida, reacionário, e sua influência começou a declinar, abrindo o caminho para a reorganização de uma nova esquerda.

A disputa da memória: a revolução foi possível?

O maio francês foi satanizado pelas forças reacionárias do mundo inteiro, e transformado em polêmica eleitoral por Sarközy, porque foi a primeira vez que, em um país central da ordem imperialista, depois do fim da guerra em 1945, milhões se interrogaram outra vez se uma revolução social não seria possível. Essa foi sua herança mais significativa. Essa é a memória que os defensores da ordem estão preocupados em apagar.

O maio francês será recordado, por alguns, porque ele ajudou a abrir o caminho para que surgissem, nos anos seguintes, os movimentos feministas, os movimentos negros, ambientalistas, os movimentos pela legalização das drogas, os movimentos contra a opressão homofóbica. É justo que seja assim. A elevação da escolaridade média da sociedade e o surgimento de uma nova classe média urbana de profissionais assalariados ajudou a potencializar novos sujeitos sociais que levantaram bandeiras político-culturais progressivas contra uma ordem mundial, até então, anacronicamente, reacionária.

Entretanto, o maio francês foi, em primeiro lugar, uma inspiração para que na França e, pela sua repercussão, em todo o mundo mais urbanizado, ganhasse relevância político-social um novo movimento estudantil. Desde então, nem sempre a maioria dos estudantes se identificaram com o movimento estudantil. Nem todos os estudantes tiveram disposição para se colocar em movimento. Uma parcela mais privilegiada, ou mais iludida com as possibilidades de ascensão social, permaneceu à margem, ou foi diretamente hostil ao movimento estudantil. Não obstante, dependendo da relação de forças política mais geral na sociedade, e oscilando entre um movimento mais de vanguarda e ideológico em situações mais defensivas, e um movimento de massas em situações de crise política, os estudantes passaram a ser sujeitos políticos da maior importância.

A história das revoluções é um campo de batalha ideológica

Conservadores de todos os tempos, no entanto, asseguraram sempre que as coisas só mudam para permanecerem, essencialmente, iguais. As ideologias reacionárias admitem que o mundo pode passar por transformações, mas somente na longa duração. Não são inocentes: sabem que mudanças na longa duração não entusiasmam ninguém. Na longa duração estaremos todos com dores nas costas, senão diabéticos, ou pior, mortos. Não ignoram que as revoluções são processos que incendeiam a imaginação dos jovens, porque demonstram que as mudanças podem ser feitas.

Os reacionários precisam denunciar os voluntarismos, mesmo quando admitem que são bem intencionados. Os mais esclarecidos podem reconhecer a legitimidade dos que lutam contra a exploração e a opressão, mas somente para desqualificá-los como sonhadores infantis. Consideram que todos os esforços de mudar a sociedade por métodos revolucionários estão condenados à partida. Apelam para os argumentos mais viciados: as recompensas seriam duvidosas, mas, certamente, não compensariam as seqüelas que toda luta traz; os sacrifícios seriam em vão. Não seria possível mudar o mundo, porque afinal as pessoas são como elas são; as relações sociais são como são, em função da natureza humana. A história, no entanto, tem a ambição de atribuir sentido ao passado, e não é casual que os historiadores marxistas tenham entre as suas preferências o estudo daqueles processos que desafiaram as forças de inércia que aprisionam as sociedades.

Revoluções, portanto, sempre inspiraram batalhas ideológicas. O maio francês foi um ensaio geral de uma revolução. Foi um ensaio de uma revolução política ou democrática: a aliança entre trabalhadores e estudantes, que potencializou a greve geral e atraiu a simpatia de uma parcela das classes médias, esteve muito perto de derrubar o governo De Gaulle e o regime da V República (Hobsbawm, 1999). Remetendo a uma metáfora histórica, foi o ensaio de uma revolução de fevereiro.[4] Foi somente um ensaio porque a situação francesa foi bloqueada, ou controlada, e a queda de De Gaulle da presidência foi amortecida, apesar da greve geral. O 68 francês foi uma revolução de fevereiro abortada. De Gaulle acabou sendo sacrificado, depois que a vertigem da crise tinha sido superada, para preservar o gaullismo como principal partido do regime. Mas, mesmo sendo parcialmente derrotado, o maio francês demonstrou que a aliança operária-estudantil era o alicerce de um bloco de classes que podia desafiar um dos imperialismos mais poderosos do mundo.

Conclusão

A disputa da memória foi o feijão com arroz das polêmicas historiográficas do século passado, porque a ordem político-social, em um mundo tão injusto e desigual, precisa de legitimação. A justificação do presente repousa na interpretação do passado. Não deveria nos surpreender que as revoluções, em especial aquelas nos países centrais, tenham sido, furiosamente, discutidas. A onda revolucionária de 68 teve três características novas: (a) a entrada em cena da juventude estudantil como detonador da mobilização operária e popular, ou seja, um papel protagonista como sujeito social; (b) a superação parcial, porém significativa, do domínio hegemônico que os partidos comunistas mantinham sobre as organizações dos trabalhadores; (c) a extensão internacional que a onda revolucionária alcançou, contagiando lutas em três continentes.

Apesar de sua força, a onda revolucionária foi derrotada. A investigação histórica não deveria ignorar, no entanto, que existiram desenlaces alternativos em cada uma das encruzilhadas em que a revolução mundial mediu forças com a ordem do capital. Ao vencer, o capitalismo provou que era (ou estava) ainda forte o bastante para impor sua dominação, fosse pela força da repressão, ou pela negociação de reformas, ou por combinações variadas de coerção e cooptação. Isso não autoriza a conclusão de que a preservação do capitalismo teria sido a solução mais progressiva. Na história, a força não prova a superioridade. Na história das sociedades contemporâneas impuseram-se, mais de uma vez, soluções reacionárias, se a classe que poderia assumir o papel de sujeito revolucionário, por imaturidade objetiva ou debilidade subjetiva, não foi capaz de derrotar o regime capitalista. A caducidade do capitalismo, ou seja, sua permanência tardia ou senil introduziu elementos degenerativos nas relações sociais. O perigo da barbárie ficou maior.

Referências bibliográficas

ANDERSON, Perry. Considerações sobre o marxismo ocidental. Lisboa: Afrontamento, 1976.

ARCARY, Valério. As esquinas perigosas da história. São Paulo: Xamã, 2004.

BENSAÏD, Daniel. Moi, la Revolution. Paris: Gallimard, 1989.

CHESNAIS, François. La caracterización del capitalismo a fines del siglo XX. Herramienta, Buenos Aires, n. 3, outono 1997.

DRAPER, Hal. Karl Marx's theory of revolution. v. 2. Nova York: Monthly Review Press, 1978.

HOBSBAWM, Eric. Maio de 68 in Pessoas Extraordinárias. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

______ Era dos extremos: o breve século XX, 1914-1991. 2. ed. Trad. Marcos Santarrita. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

TOURAINE, Alain, Le mouvemente de mai ou le communisme utopique. Paris: 1969.



[1] BENSAÏD, Daniel. Moi, la Revolution. Paris: Gallimard, 1989. p.28. Tradução nossa.

[2] "Mas a Frente Popular não estava preparada para ocupar o vazio deixado pela desintegração do gaullismo(...) o Partido comunista, mediante seu controle sobre a confederação sindical mais poderosa, era naquele momento a única força civil de real importância e, portanto, inevitavelmente, dominaria o novo governo. A crise eliminou a falsa política de cálculos eleitorais e deixou visível somente a política real dos poderes efetivos (...) O PCF manteve-se consistentemente atrelado por trás das massas, sendo incapz de reconhecer a seriedade do movimento estudantil até que as barricadas foram erguidas; e incapaz de reconhecer a disposição dos operários para uma greve geral indefinida, até que as ocupações espontâneas forçaram a mão de seus dirigentes sindicais". HOBSBAWM, Eric. Maio de 68 in Pessoas Extraordinárias. São Paulo: Paz e Terra, 1999, p.309 e 312.

[3] Foi nesse contexto que constituíram o "movimento do 22 de março", uma tendência ou frente estudantil animada por trotskistas e anarquistas; entre eles, os dois Daniéis: Cohn-Bendit, estudante de sociologia de nacionalidade alemã e que, hoje, tem um mandato do Partido Verde no Parlamento europeu, e Bensaïd, que permanece uma das lideranças da LCR francesa, e é professor de filosofia em Paris.


[4] As revoluções do século XX só excepcionalmente radicalizaram em revoluções sociais, como em Outubro de 1917 na Rússia, ou em 1961, em Cuba. A maioria das revoluções estagnou na forma de revoluções democráticas – a derrubada do regime político - a "estação" de Fevereiro na Rússia, e não tiveram resultados anti-capitalistas. Depois da revolução russa, o intervalo histórico entre a etapa de "Fevereiro", a revolução política, e "Outubro", a revolução social, não parou de aumentar: as razões deste processo foram muitas e variadas em cada revolução, mas o denominador comum foi a fragilidade ou até ausência de organizações marxistas revolucionárias. Em raras oportunidades, comparativamente, se expropriou o capital e se avançou em experiências de transição ao socialismo. Esses resultados, entretanto, não autorizam a conclusão de que não existia uma dinâmica anti-capitalista nos processos de mobilização que culminaram em revoluções democráticas. Se as revoluções políticas demonstraram-se fenômenos quase recorrentes – como, mais uma vez, as situações no Equador, Venezuela, Argentina e Bolívia dos últimos anos, entre outras, confirmam - foi porque as tarefas históricas que se propuseram resolver permaneceram pendentes. Suas espetaculares vitórias democráticas resultaram em mudanças econômico-sociais insuficientes, conquistas sempre incompletas, e frustraram as classes que as fizeram. As revoluções de "Fevereiro" foram, nesse sentido, revoluções sociais "abortadas". As massas populares lutaram, uma e outra vez, com heróicos sacrifícios, mas acabaram por entregar o poder para representantes políticos de interesses de outras classes. Essas energias revolucionárias não são inesgotáveis. Fevereiros crônicos são vitórias táticas que preparam derrotas estratégicas. Ultrapassado um ponto limite de máxima tensão, sem uma solução favorável para os trabalhadores, a renovação de esperança exige longas durações para se recuperar, ou seja, o intervalo de uma geração, ou décadas. Esse balanço histórico convida à perseverança - e à imaginação - de que outras revoluções são possíveis. Sobre o tema das revoluções de fevereiro é possível consultar: ARCARY, Valério. As esquinas perigosas da história, situações revolucionárias em perspectiva marxista. São Paulo: Xamã, 2004. MORENO, Nahuel. Critica a las tesis de la revolución permanente de Trotsky Buenos Aires: Ediciones Crux, 1992. Colección Ineditos de Nahuel Moreno.

16 fevereiro, 2009

Por que não funcionam os núcleos de base

Os políticos falam todo o tempo de consulta às suas bases. Mas a realidade é que núcleos de base não funcionam em nenhum dos nossos partidos políticos, inclusive os de esquerda.

A experiência do PT, nos anos oitenta, teve vida brevíssima e sofreu o mesmo destino dos soviets na Rússia soviética.

Há uma explicação para isto.

O sujeito leva um tempão para aprender a lidar com o Windows. Se quando ele consegue esse feito, alguém lhe sugere mudar para o Linux, ele reage negativamente.

Este primeiro obstáculo para o funcionamento do núcleo de base é do mesmo tipo que a troca de programa de computador: o militante leva um bom tempo para inteirar-se a respeito da revolução socialista. No partido, ele aprende que esta só acontecerá quando as massas se levantarem, mas que as massas são inconscientes e desorganizadas, movimentando-se em função do estímulo de suas vanguardas. Aprende também que a vanguarda da massa não pode gerar uma consciência política se não for estimulada por uma força externa, surgida entre os dissidentes da burguesia agrupados em um partido: a vanguarda da vanguarda.

O partido tem que funcionar como um exército monolítico, sob o comando de uma direção eleita pelos militantes, mas, uma vez empossada, detentora do poder de dirigir as ações, na base do "centralismo democrático".

Ora, o primeiro requisito para que os núcleos de base funcionem é a mudança radical desse conceito de direção do partido revolucionário. Os núcleos só poderão ser dinâmicos e formadores de quadros socialistas se forem envolvidos permanentemente no processo decisório da agremiação.

Não basta eleger delegados para defender teses e candidaturas em plenárias, conferências e convenções partidárias, que se reúnem de tempos em tempos. A linha política decidida nesses conclaves é executada por meio de uma miríade de decisões particulares, o que abre caminho para distorção da vontade expressa das bases e para a usurpação do poder da base por oligarquias burocráticas. É indispensável, portanto, desenvolver formas de participação mais freqüentes de todos os militantes no processo decisório, se se quiser, de fato, que os núcleos de base funcionem.

É possível fazer funcionar um sistema em que, antes de tomar uma decisão, a direção partidária consulte todos os seus militantes?

Não há condições de responder a essa pergunta sem fazer experiências.

Elas se chocam com o pensamento conservador: "não há necessidade de andar procurando novidades, Lenine já disse tudo".

Este não é, contudo, o único obstáculo à mudança do conceito de direção nos partidos socialistas.

À resistência (aberta ou tácita) da "nomenklatura" soma-se a resistência da própria base, integrada que está por pessoas hereditariamente excluídas da participação em uma atividade que a classe dominante reservou para si. Pessoas dominadas por gerações e gerações tendem a introjetar a subalternidade da classe social à qual pertencem: simplesmente não acreditam que sejam capazes de entender as complexas questões do governo. Para elas, isto é assunto para doutores, advogados, engenheiros, pessoas "estudadas".

Mudar hábitos culturais é processo lento e trabalhoso. Não se completa se não for iniciado. Esta é a grande responsabilidade das lideranças que teimam em reviver o socialismo no século XXI. As derrotas que vêm sofrendo deveriam levá-los a, pelo menos, fazer algumas experiências.


Tarifa Zero

Criando as condições para a tarifa zero

CartaCapital: No livro Um governo de esquerda para todos, Paul Singer, secretário de Planejamento do governo, fala sobre esta reunião em que o secretariado estava preparando o Orçamento de 1991, e que havia uma certa frustração pela ação do governo, que não estava realizando grandes projetos. E então surgiu a história da tarifa zero, você apresenta a idéia da tarifa zero.
Lucio Gregori:
É como ele fala no livro, mesmo. Talvez eu contasse com poucas diferenças, nuances. Eu simplesmente já estava maquinando aqui o seguinte: teria um seminário, encontro dos secretários de Transporte, sei lá, qualquer dessas coisas que os técnicos gostam de fazer, e iria falar: “Olha, ou entra por uma linha tal – eu nem tinha nome, tarifa zero, subsídio radical, pago indiretamente, uma coisa assim – ou nós vamos ficar nessa discussão interminável”. Então eu achei que, indo eu, na qualidade de secretário de Transportes de São Paulo, falar esse troço num seminário... Eu era muito visado, secretário de Transportes da prefeitura era duplamente visado.

Então, o que eu fiz? Cheguei na reunião do secretariado, uma reunião normal, como tantas outras. Numa certa altura, falei: “Prefeita, gostaria de fazer uso da palavra, dar uma informação que acho importante. Olha, hoje à tarde vai ter uma reunião assim, assim, assado, e eu vou lá na qualidade de secretário, mas vou dar uma opinião particular, não como secretário, mas como profissional, como ser racional, digamos assim. Eu vou dizer isso, isso e isso a respeito disso, pois eu acho que esse problema não tem solução”. Fui lá, fiz um discurso, acho que o Singer botou até melhor que eu. Não sei o que isso provocou nas várias pessoas. Sei à posteriori que em algumas provocou indignação forte. Mas aí, vou almoçar com o Sandroni, tal como ele conta. Ele faz uma versão que eu confesso a você não tenho essa total certeza, de que eu pretendia divulgar a tarifa zero, mas que o Sandroni teria me convencido a fazer imediatamente, e daí ir para o gabinete da Erundina.

Acho que não foi bem isso. Acho que ao discutir com o Sandroni, nós dois meio que chegamos à conclusão que valia a pena falar isso com a Erundina com mais detalhes. Ele, tendo ouvido aquilo, percebeu - Sandroni era bastante inteligente, economista -, sacou na hora o tamanho do torpedo, e foi isso que nos levou naquele mesmo dia, depois do almoço, a bater um papo com a Erundina. E Erundina, conforme diz o Singer, vislumbra naquilo alguma coisa.

CC: Topou na hora?
LG:
Na hora, cinco minutos. Porque ela vislumbrou duas coisas. Primeiro, ela saía do cantinho na questão dos transportes, pelo menos ela jogava um ás de ouro na mesa. Outra, ela falou: “Eu vou conseguir levar o povo pra Câmara dos Vereadores exigindo a aprovação do projeto”. O que eu achei, hoje à distância, até um pensamento um pouco ingênuo dela. Mas ela imaginava pressão popular pra fazer isso. E ela saía do cantinho que estava na Câmara também. E, além do mais, ela concordava com a fundamentação da coisa.

Passei um mês falando com a assessoria jurídica, porque eu queria fazer um projeto criando uma taxa, chamada taxa transporte, que já era um estudo existente no partido anos atrás, para que essa taxa fizesse um fundo, que custeasse o serviço de ônibus. A prefeita estava bancando, cobrando do assessor jurídico: “Como é, já fez, estão estudando?”. A assessoria jurídica chegou à conclusão que essa proposta era inconstitucional. Porque só é possível criar novas taxas através de legislação federal. O município não pode criar taxas novas, isso é da Constituição.

Eu estou à tarde no gabinete do secretário, Mauro: “E agora, Mauro, o que nós fazemos?”. Isso aqui é o pulo do gato dessa história toda. Ele vira e fala: “Só tem um jeito. Só se a gente fizer uma reforma tributária calcando a moleira no IPTU dos ricos e fazemos o fundo”. Eu falei: “É isso”. Liguei pra Erundina na hora, falei: “Erundina, preciso conversar com você”. Fui lá, expliquei pra ela, ela falou: “É isso, vamos”. Chamou o Secretário de Finanças e mandou fazer uma proposta de reforma tributária.

CC: O texto dele dá a entender que no meio dessa discussão sobre a proposta orçamentária para 1991, a prefeitura estava meio... Todos estavam insatisfeitos. Não estavam conseguindo fazer nada grandioso. E essa idéia veio como salvação da lavoura.
LG:
É possível, para alguns.

CC: Consideremos que foi isso que aconteceu. Você acha que em outro contexto, sem essa insatisfação, a Erundina a aceitaria da mesma forma?
LG:
Essa leitura do Singer precisa ser matizada, porque o Singer foi um que aderiu à idéia da tarifa zero pelas razões que inclusive ele fala no texto. Ele compreendeu profundamente o que estava por trás disso tudo. Agora, não sei em que medida tem um pouco de projeção dessa visão dele...

CC: O Singer escreve, então, do ponto de vista de quem aceitou a idéia.
LG
É, exatamente. Tem esse viés. Eu acho que aqueles todos que passaram pelo governo naquela época, aqueles que eram de origem petista – e o PT era um partido radical –, ao chegarem no governo verificaram que a dificuldade de fazer as coisas é imensa, é imensa. O sistema econômico capitalista e a sociedade estão organizados de um jeito, de um modo tal que não dá para mudar de hoje para amanhã pelas vias legais. Não é à toa que existe a revolução. Só que isso você aprende ao vivo. Acho que essa necessidade de encontrar uma coisa que marcasse, que fosse a cara do governo, ele cita isso lá, só usava um outro termo, não era cara, uma marca, uma coisa assim.

CC: E faltava o quê para tocar adiante a tarifa zero?
LG:
Faltava mandar o Projeto de Lei.

CC: Montar o Projeto de Lei foi rápido?
LG:
Foi, porque o projeto era simples.

CC: O projeto do Fundo, que ia viabilizar a tarifa zero, foi paralelo ao projeto de municipalização?
LG:
Não, aí era só tarifa zero. Mas a tarifa zero pressupunha a municipalização. Mas não estava dito que pressupunha.

CC: A municipalização foi realizada quando? Foi em 1991?
LG:
Não, isso que eu estou lhe falando é final de 1990, a tarifa zero. E a municipalização foi ao longo de 1991 e se implementou em 1992.

CC: E então vocês montaram o projeto...
LG:
O projeto, a reforma tributária correspondente, mudou-se a escala de IPTU...

CC: Havia discussão sobre outras fontes de recurso além do IPTU? O IPVA, por exemplo?
LG:
Não, IPVA é estadual, não tinha mais nada.

A resistência do PT à proposta da tarifa zero

CartaCapital: A Erundina topou. E o PT?
Lucio Gregori:
Pra minha surpresa, os vereadores do PT , no geral, ficaram contra o projeto. Por quê? Disseram: “Vai mandar um trambolho, um torpedo desse tamanho, numa Câmara que a gente já não tem muita possibilidade. Agora se fecham todos os canais de negociação interna”. Porque eles raciocinavam, como sempre raciocinam, na tal governabilidade. Ela já não tinha feito acordo com nenhum vereador, agora vinha encostar a Câmara dos Vereadores no cantinho, com um projeto desses? Esse momento foi muito dramático. O líder do partido na Câmara... Teve uma reunião que a Erundina chamou, que ela falou: “Olha, tem um grande projeto que eu quero anunciar a vocês”. Anunciou primeiro para os vereadores, depois ela se reuniu com todos os administradores regionais, me fez contar qual era o projeto. Ela fez várias reuniões e falava: “O Lúcio vai explicar”. E eu explicava. “E eu vou fazer esse projeto”, ela dizia.

CC: Quem era o líder? Era o Whitaker?
LG:
Não, o Whitaker era líder do governo. Esse era o líder da bancada. Maurício Faria o nome dele. Ele vai nessa reunião, como líder do PT, e fala: “Eu não admito que isso possa acontecer” – porque a relação era muito democrática no governo – “eu não admito que aconteça isso, que uma pessoa que não tem experiência, nova no cargo, que não tem tradição, que blábláblá, de repente vem com um projeto megalomaníaco, que pode comprometer nosso governo”. Ele não tinha entendido bem. Foi a primeira vez que eu fiquei muito indignado. Eu virei pra ele e fui literal. Disse: “Enquanto você estava de fraldas, eu era o funcionário número 6 do Metrô. Portanto eu conheço, sim, transporte e conheço mais do que você pensa. E além do mais, esse projeto é um projeto político, de que lamentavelmente você não entende nada, apesar de você ser vereador”. Algo assim. Foi duro. Foi uma reunião horrorosa. Você pode imaginar eu falando isso pro líder da bancada do partido, a prefeita...

CC: Quantos vereadores o PT tinha?
LG:
Na época tinha 12. Todo mundo era contra, se bem me lembro. Ou, pelo menos, havia forte resistência.

CC: Que argumentações apareciam?
LG:
“Não tem condição política. Ônibus de graça não tem cabimento. Isso não há como fazer, no mundo inteiro não existe. De onde é que foram tirar uma coisa dessas?”. Era por aí, não tinha um argumento substantivo que dissesse: “Isso é uma coisa insensata”.

CC: Como se posicionava o PT municipal?
LG:
PT municipal ficou envergonhado e fez uma notinha dizendo que era a favor. Fez e não fez mais nada. Burocrático. O presidente da CUT regional, Jorge Coelho, também. Me entregou uma cartinha de apoio da CUT numa festividade pro Nelson Mandela nos salões da prefeitura. Ele me deu assim, falando: “Lúcio, essa é a coisa da CUT”. “A CUT reunida manifesta seu apoio a um projeto blábláblá”. Burocrático, não fez nada. Provavelmente era contra também, só que não tinha como dizer que era contra.

A Erundina reúne o secretariado. Explicou o projeto tarifa zero. Falei, defendi com bastante versatilidade. E ela virou e falou: “Então agora é o seguinte. Nós vamos fazer todo final de semana, sábado e domingo, reuniões plenárias com a população, toda a cidade, para explicar o projeto, debatê-lo. A gente precisa arregimentar força para aprovar”. Houve uma resistência imensa. Paulo Freire, que é um cara acima de qualquer suspeita, secretário de Educação, vira e fala: “Mas Erundina, você não acha que está exagerando em fazer ônibus de graça?”. O pessoal do Metrô, do sindicato metroviário, esses saíram batendo duro também, porque se arvoravam em técnicos. “Esse projeto está completamente furado, não tem a menor viabilidade, tecnicamente não sei o quê”. Foi aí que eu disse pra eles: “Olha, isso é uma decisão política.
Tecnicamente tudo tem solução. Decisão técnica é fazer corredor com metro pra lá, com metro pra cá. Isso que estamos discutindo é divisão do bolo, gente. Quem vai pagar o sistema de transporte: usuário de ônibus ou quem dele se beneficia?”.

Aí a discussão ficava pesada. Eu tive episódios muito curiosos. Lula, perguntado pela mídia, aproveitando pra dar mais uma na Erundina, diz o seguinte: “Não, o trabalhador não precisa de ônibus de graça, trabalhador precisa ganhar bem para pagar um sistema de transporte decente”. Nesse momento, eu posso lhe dizer, cheguei à conclusão de que Lula não era aquilo que eu imaginava. Se ele pensa isso ele não entendeu nada, nada. José Genoíno era deputado federal e apoiava muito a Erundina. Numa reunião no diretório, não sei por que, com o Lula presente, Genoíno brinca com a Erundina, fala: “Erundina, um subsídio de tarifa grande tudo bem, mas ônibus de graça, Erundina? Pô, você agora abusou, hein?”. Falou brincando, mas era o que ele pensava.

Olha, foi uma experiência definitiva pra mim. Eu cheguei à conclusão que aqueles posicionamentos não eram de esquerda, não, no sentido pleno da palavra. Sobretudo porque, naquela época, o PT era tido como um partido revolucionário. E essa era uma proposta indiscutivelmente “revolucionária”.

As dúvidas da população sobre o assunto

CartaCapital: Quando você tentava convencer a população, como era este debate?
Lucio Gregori:
A população, é bom esclarecer a você, veiculava perguntas pra mim que eram montadas pela mídia e pelos opositores. Por exemplo: “Se o transporte está tão ruim pago, de graça vai ficar pior”. E perguntavam isso pra mim, é claro. Nada a ver uma coisa com a outra. “E eu que sou inquilino, meu IPTU vai aumentar muito”. A direita tinha implantado isso: “E os inquilinos das casas, como é que vão fazer?”. Eu falava: “Mas eu estou falando de inquilino de classe média pra cima”. Porque pra baixo, até hoje, por exemplo, em São Paulo, imóveis até R$ 50 mil o valor não paga IPTU. “Vocês estão isentos”.

CC: Ou seja, a maioria ampla da população.
LG:
Muito ampla. E tinha os cadernos, porque tudo isso foi simulado. “Onde é que você mora?”. “Rua tal, número tal”. Você ia lá e falava: “Não, a sua casa está isenta do IPTU”. Ou, então, a progressividade tinha sido pequenininha. A curva de alteração era: os isentos, depois os não isentos subia um pouquinho. Agora, para os bancos, meu amigo, triplicava. Em alguns casos quadruplicava o IPTU. E digo mais pra você, IPTU, na conta de um banco, é mais ou menos 0,0001% do custo, sei lá...
Bom, as dúvidas da população eram, sobretudo, essas. E, de fato, hoje à distância, o que eu vejo? É claro que o projeto tarifa zero poderia ter tido muito mais chance se o transporte estivesse melhor. Esse discurso “se está ruim pago, pior não pago” cola muito na cabeça das pessoas.

Eu entrei na secretaria de Transportes em junho de 1990. Em setembro de 1990, tinha que mandar a proposta orçamentária pra Câmara, é a data que expirava. Portanto, era ali ou passava o tempo. Hoje eu vejo porque pode não ter dado certo, embora ache muito difícil que um projeto desse passasse, porque realmente tudo teve que ter sido feito meio às carreiras.

Mas o entendimento que a Erundina teve, o que eu achei a grande genialidade dela, digamos assim, é que ela sacou que isso era uma proposta política, que era pra fazer um bruto debate na sociedade. Tanto isto é verdade que o projeto tarifa zero não foi votado, a reforma tributária não foi aprovada. Eles nem votaram a tarifa zero.

CC: Chegou a tramitar em comissões?
LG:
Tramitou. Teve pareceres favoráveis e desfavoráveis. Pois bem, em fevereiro de 1991 eu sou o primeiro secretário a me reunir com todos os líderes de partido da Câmara. Alguns secretários disseram: “É a primeira vez que estou pisando num gabinete de secretário do PT”. Porque o PT era odiado naquela época, não é o PT de hoje. PT era uma coisa esquisita. Abriu-se uma comissão de vereadores que o Chico Whitaker articulou, e nós fomos discutir o projeto de municipalização e escrevemos o projeto de municipalização a dez mãos. Com todos os líderes de partido. Com exceção do PCdoB. Porque o PCdoB era contra, era a favor da estatização. E o PSDB ficou rachado, um pessoal veio fazer comigo e um outro era contra. Posteriormente aprovaram o projeto. E isso permitiu a municipalização, que foi a grande virada. Pra você ter uma idéia, eu contei pra você que quando eu entrei a avaliação do sistema estava -40 ou -60. Quando terminou 1992 a avaliação do sistema foi +62.

A municipalização soterra a tarifa zero

CartaCapital: E com esse sucesso da municipalização, não era possível retornar à tarifa zero? LG: Eu acho que não.

CC: O projeto tarifa zero ficou soterrado para a sua geração?
LG:
Eu acho que sim, um projeto muito difícil, não é? Ele precisa de um momento político muito especial.

CC: Difícil pela questão política ou difícil pela aplicação?
LG:
Não, não. Fazer tarifa zero é bico, não tem mistério nenhum.

CC: Problema é derrubar tabu?
LG:
É, mas põe tabu nisso. E não é só tabu. Tarifa zero só existe com reforma tributária altamente progressiva. E aí, meu amigo, não é qualquer um...

CC: Aí mexe com interesses financeiros.
LG:
E hoje, então, com o discurso que se diz que no Brasil tem imposto demais. Situação política seria muito difícil. Na escala de São Paulo, então...

CC: Voltando à municipalização. No decorrer de 1991 a municipalização é implementada...
LG:
Durante 1991 a gente discute o projeto, aprova na Câmara, faz a concorrência pública, que é uma concorrência pública gigante, transforma todo sistema de concessão em sistema de serviço prestado e bota dois mil ônibus numa tacada. Primeira tacada, no dia 25 de janeiro, Dia da Cidade de São Paulo. Nós enfileiramos mil ônibus numa tacada só para entregar na cidade. Nós fizemos uma fila que começava na Praça da Bandeira e ia até além do aeroporto de Congonhas. Uma fila de mais ou menos 16 quilômetros de ônibus enfileirados um atrás do outro. Mudamos tudo. Acabamos com essa de cada empresa de ônibus ter uma cor – hoje algo consagrado, mas na minha época não era não. Os ônibus passaram a ter todos a mesma cor, com indicação de região através de um projeto visual. Teve todo um projeto de capricho.

CC: Antes disso, uma última questão sobre a tarifa zero. Chegou a existir algum movimento defendendo o projeto? Ligado ou não ao partido.
LG:
Teve. Existiram Núcleos Pró-Tarifa Zero, movimentos populares. Mas acontece o seguinte. Naquela época a participação popular estava muito vinculada ao PT. Hoje eu acho que ela se difundiu um pouco mais e também há muito apartidarismo. Naquele momento o PT tinha a hegemonia quase que absoluta. Alguns poucos movimentos não eram ligados. O PT não se mobilizou. Há alguns casos em que vereadores foram dizer: “Vocês têm que calar a boca porque vocês vão atrapalhar tudo”. Vereadores do PT. Eu sei de casos, por exemplo, que o Núcleo Pró-Tarifa Zero da Vila não sei das quantas, começou a panfletar, um vereador foi lá e mandou retirar aquele negócio. “Vocês estão loucos, o que é isso?”.

Mas eu acho que tem uma coisa, Daniel, que possivelmente explica isto, pra mim. É que o PT não era um partido revolucionário. Este é o ponto. Coisa que hoje fica de uma evidência muito clara. Não porque isto signifique uma condenação minha ao PT. Eu acho que o PT teve, tem e provavelmente terá um papel muito importante no Brasil. Não sou dos que estão torcendo contra. Mas, intrinsecamente, ele não era o partido revolucionário. Que é um partido revolucionário dentro da democracia? Ninguém está propondo aqui a ditadura de qualquer tipo. É obviar cada vez mais os limites que o capitalismo tem. O capitalismo tem limites próprios e um partido revolucionário tem que ficar evidenciando isso pra deixar claro que a luta tem que ser outra. Porque senão você cai numa armadilha que é insolúvel. A frase “o trabalhador tem que ganhar bastante pra pagar um ônibus de boa qualidade” revela, no meu modo de ver, não má vontade.

As experiências com a tarifa zero em outros locais

CartaCapital: Aqui em Florianópolis as empresas que exploram o serviço não passaram nem por licitação.
Lucio Gregori:
É, a tal delegação. Quando eu fui secretário os contratos estavam todos vencidos. Era tudo com permissão precária. Não dá, não tem como. Nos Estados Unidos é estatal, gente. E é fortemente subsidiado. E eu estava lembrando hoje, por exemplo, na Itália – só para dar alguns exemplos, depois eu volto à municipalização – como é o sistema? Você vai numa tabacaria e compra uma passagem de ônibus. No ônibus, logo na portinha quando você entra tem uma caixinha onde você valida aquele negócio, se quiser. E tem uma auditoria de quando em quando. E eu depois vi a estatística, é de 1/90. Eles fazem uma auditoria e pegam alguém que não validou. E aí tem uma multa.

CC: Na Alemanha também. Conheço gente que ia pra lá e não pagava...
LG:
Em Budapeste era assim, quando estive em Budapeste. Minha filha foi pega no terminal porque não tinha validado, por esquecimento. Isso significa o quê? É praticamente uma tarifa zero. Provavelmente o sistema não quer que ele tenha essa configuração porque evidencia um equívoco capitalista. Mas é praticamente. Arrecadação tarifária, na Itália, deve contribuir com uma merreca no custo do sistema.

Nos Estados Unidos o subsídio é de 40%, 50%. Na França chega a 90% e no Brasil você paga integralmente a passagem, com exceção do vale transporte, que é uma renúncia fiscal. Ninguém conta isso. Vale transporte é uma renúncia fiscal, portanto, é um subsídio sim. Só que pra empresa também. Não que não seja para o trabalhador. O desconto é no imposto de renda. E conta como despesa operacional, quando não é. E é limitada, como se diz, Casa Grande & Senzala, é serviço-trabalho-trabalho-serviço. Trabalho-casa-casa-trabalho e ponto. Como se você vivesse numa cidade indo pro trabalho e do trabalho pra casa. Você não tem mais mobilidade.

Existem uma série de argumentos utilizados pelos que não concordam com a tarifa zero. Mas há uma questão que dificilmente será discutida de forma aberta, que é a possibilidade das pessoas pobres poderem se locomover por todos os lugares, lugares que são reservados aos ricos. Por exemplo, existem praias em Florianópolis sem acesso razoável, senão de carro. Então com a tarifa zero o sujeito vai ter este acesso.
Isso muda tudo.

CC: Tem praias aqui que não tem ônibus. Aliás, tem...
LG:
Eu imagino. Tem um ônibus de manhã e um de tarde.

CC: Isso, pra levar e trazer empregados.
LG:
Onde eu moro, um loteamento aberto, não chega a esse nível, mas tem dois, três ônibus durante o dia para, sobretudo para os serviçais. É uma forma de você segregar. Isso é impressionante, não dá nem pra imaginar. Será que não discutir a tarifa zero não é a permanência da subalternidade? É o medo de superar pra valer a subalternidade? Porque subalternidade não passa só pelo fato de você ser empregado, passa por tudo isso.

Então, voltando à pergunta sobre a municipalização, porque eu acho muito interessante. Maluf e Pitta não mudaram, por questões puramente operacionais. E segundo, porque a municipalização isoladamente é como qualquer contrato da prefeitura. Como uma empreiteira, um viaduto. Você contrata, paga e pronto. Mas também você pode não pagar, sacanear para pagar. Ou você pode pagar menos e ficar devendo. Todas as safadezas típicas que você pode fazer quando se é Poder Executivo no Brasil.

Após três governos, o próprio PT acaba com a municipalização

CartaCapital: A tarifa zero era uma concepção política.
Lucio Gregori:
Uma concepção política profunda, capitalista. Não é revolucionária. Erundina, naquele momento, era revolucionária. Muitos outros eram também. E outros não são revolucionários nesse sentido. Eles, os ditos revolucionários. querem promover uma revolução democrática dentro do sistema capitalista. Ou, pelo menos, levar a ficar óbvio que o capitalismo tem limitações. Hoje, vendo debates, com 15, 16 anos de distância, pra mim isso fica de uma clareza, fica até chocante. Como é que eu me dispus a peitar essa discussão. Eu comentava isso com minha mulher. “Heloísa, eu estava doido”. Porque é uma tarefa incrível.

Mas era um momento muito peculiar. Eu acho que a maioria das pessoas que se dizem revolucionárias não são. E eu acho que também não sou, é bom deixar claro. Mas eu gosto de provocar um pouco essa evidência da sandice, eu acho que isso é uma coisa importante. E o capitalismo é coalhado disso.
Agora, uma coisa é verdade, Daniel. Maluf não mudou a municipalização. É claro que não fez a tarifa zero. Pitta não mudou a municipalização. Sabe quem mudou a municipalização e voltou ao regime de concessão? Marta Suplicy, do PT.

CC: Por que ela fez isso?
LG:
Porque eu acho que as pessoas não estão a fim de criar problema. Elas estão a fim de conquistar e exercitar o poder. E isso aí às vezes atrapalha sua carreira política. Se você está pensando em termos de carreira ascendente pessoal.

CC: Quando ela modificou não teve choque, discussão sobre isso?
LG:
Não, foi aprovado por unanimidade pela bancada do PT.

CC: Tinha argumentação política pra isso ou foi: “Acho que é melhor assim e deu”? Porque se Maluf e Pitta não mudaram...
LG:
Maluf e Pitta não mudaram por uma outra razão.

CC: Qual?
LG:
Eles chegaram à conclusão que aquele sistema estava bom. “Por que eu vou mexer?”. Que bobagem.

CC:Exatamente. Se eles achavam que era razoável, ou pelo menos não era desconfortável o suficiente para que eles tivessem que mexer, que tipo de problema o transporte gerava pro PT da Marta?
LG:
Por causa do seguinte. A municipalização – não estamos mais na tarifa zero, porque a tarifa zero é outro salto de qualidade...

CC: Que foi sepultado.
LG:
Foi sepultado até que renasça, nunca sei. Eu confio muito nisso que o Movimento Passe Livre está fazendo. Por isso que estou falando do projeto tarifa zero, não é à toa. Mas não porque acho que o movimento poderá implantar a tarifa zero, mas acho que vale a pena essa discussão, ela é fundamental. Ou então essa sociedade não muda muito. Não muda. Eu acho que o transporte urbano é de um simbolismo tão forte, que se ele continuar sendo como é no Brasil, concessão tarifária com empresa concessionária privada, não vai mudar muita coisa.

Os problemas para fiscalizar o transporte público

CartaCapital: E como era a fiscalização para ver se as empresas estavam cumprindo o que era determinado?
Lucio Gregori
: Ah, muito fácil. Isso também foi um Febeapá. Febeapá é um termo: Festival de Besteira que Assola o País. Isso era uma figura usada por um grande humorista brasileiro chamado Stanislaw Ponte Preta. Ele falava do Febeapá e do samba do crioulo doido. Ele que inventou o termo samba do crioulo doido. Na época era muito fácil. Hoje, então, com GPS , processamento de dados...

CC: Em Florianópolis as próprias empresas fazem o controle de dados. A prefeitura só os recebe depois.
LG:
Aí é piada. Aí, como dizem, é pornografia.

CC: A planilha não é pública, embora seja divulgada aos membros do Conselho Municipal dos Transportes. A forma de coleta de dados, notas fiscais de fornecedores, ainda não é pública.
LG:
Em São Paulo estávamos um pouco além. A planilha tinha sido discutida no Conselho Tarifário. Tinha representante de todos os lados. A estatística de passageiros era a CMTC que fazia. Depois disso a arrecadação de tarifa era feita para a prefeitura, controlada. E os sistemas de controle poderiam ser vários.
Mas na nossa época era simples. Você tinha uma fiscalização de garagem. Você tinha ‘x’ fiscais que ficavam nas garagens. Você tem a planilha de saída de horários previstos de acordo com o serviço. Ficavam lá registrando, nuns apontadores digitais da época. Aí você via: “Saíram todos os ônibus da garagem conforme previsto nos horários confirmados”.

Agora, você pode ter uma outra situação: ele deu uma volta no quarteirão, entrou e virou. Não deu, porque o fiscal está lá. Ou ele ficou numa rua parado na esquina e no fim do dia ele voltou e o fiscal disse: “Ah, ele saiu e ele voltou”. Mas o que acontece. Nós tínhamos feito um trabalho grande na CMTC que verificava os pontos de passagem das várias linhas de ônibus. Apesar delas serem várias, elas têm pontos de passagem obrigatórios. Não são muitos na cidade. Seriam acho que uns 200 pontos em São Paulo. Nesses pontos você tinha uma equipe de fiscais que controlava e anotava, por digitação, o número do ônibus e o horário que ele passou. No fim do dia você jogava isso tudo dentro de um computador e ele dizia: “O ônibus tal saiu, passou no ponto tal a tal hora”.

Como o projeto tinha sido muito bem bolado, o contratado (empresário) ganhava uma parte por quilômetro rodado e uma parte por passageiro transportado. E essa equação era feita de tal modo, linha por linha, tal que, se ele só rodasse a quilometragem e não transportasse ninguém, ele receberia 80% do custo do serviço, portanto iria à falência. Se ele transportasse mais passageiros do que era permitido, ele não recebia por cláusula contratual. Claro que você pode ter o fiscal corrupto. Mas aí está para se inventar um sistema que evite isso. Agora, hoje em dia, não sei nem se usa isso em São Paulo, você tem um chipzinho que é colocado no ônibus e através de uma central você controla tudo à distância. Dá pra chamar um tecnocrata de informática e ele fica alucinado. Com GPS dá pra dizer em que lugar o ônibus está, que hora que passou, como passou e deixou de passar. Mas Maluf não fez por causa disso, talvez ele tenha até sacaneado um pouco também, não sei.

CC: Talvez as empresas pudessem ter tido alguma margem...
LG:
Pra dar por fora, pra receber. É, pode ser. Então ele ficou confortável, falou: “Não vou mexer nessa trolha aqui, vou ter que fazer uma outra lei, meu deus do céu”. Agora, por que a Marta mudou? Eu acho que Marta mudou por causa de projeto de poder. Aliás, diga-se de passagem, a primeira municipalização feita foi a de Santo André, com o Celso Daniel. Eu devo muito ao então secretário de Transporte de lá. Porque eu ficava comendo na mão dele. “Como é que você está fazendo, como é que você remunera?”. Ele dava dicas. Celso Daniel, no segundo governo dele, cancelou a municipalização.

CC: Por quê?
LG:
Eu acho, como disse a você, que a situação “concessão regulada por tarifa” já é incorporada na cultura nacional. Pode ter uma sainha justa na hora dos reajustes. Mas como já se tinha chegado nas planilhas mais confiáveis, estatísticas mais confiáveis, a discussão [sobre democratização do transporte] ficava na margem.
O empresário, como agente racional na economia, vai tentar sempre otimizar seus lucros. Através das mais variadas sacanagens. E o poder público vai tentar o tempo todo minimizar o custo político dos aumentos tarifários. Essa tensão vai ser o tempo todo gerenciada desse jeito, mas é uma tradição que no Brasil vem pelo menos desde 1920, 1910. Ou até mais. Tem 100 anos disso e continua assim.

É um desgaste menor, pra quem quer um projeto político de manutenção de poder, ter algumas concessões do que peitar uma coisa como a municipalização, que vai exigir controle absoluto, pagamentos em dia. Vai te tirar flexibilidade e perspectiva de custos crescentes, porque o sujeito, o usuário, quer ter um pouquinho mais.

Então se ele passa a ter um transporte bom, um lugar mais folgado, ele quer um ônibus melhor. Depois ele quer um ônibus que não dê tranco, um ônibus automático, com ar-condicionado, entendeu? E a municipalização vai permitindo esse caminho todo. As discussões crescentes com a classe dominante, que de algum modo vai ter que pagar... Para um projeto de poder como o PT tem, hoje fica claro pra mim, é um bruto desgaste, não faz sentido.

Questionamentos políticos que projetos de tarifa zero sofrem

CartaCapital: E argumentos como: “Vai tirar verbas que vão pra educação. O povo vai perder creche”?
Lucio Gregori:
Há uma questão central na gratuidade. A gratuidade implica em custo. E isso tem que ser discutido. É claro que se você disser “estudante não paga”, logo vem um argumento assim: “É, mas então o usuário que paga está bancando o estudante. Não é justo”. E em parte isso pode ser verdadeiro, por isso que eu digo sempre: a questão do subsídio está diretamente ligada a duas coisas. A disputa de dinheiro entre setores da prefeitura. Você pode dizer: “Bem, eu vou gastar menos em asfalto de rua e vou gastar mais em transporte de gente”. Não precisa ser só a creche. Tem tanta coisa que você pode gastar menos. Eu vou fazer mais economia com sistema racional de iluminação para bancar isso. Ou vou fazer uma pequena reforma tributária para ter um dinheiro a mais para bancar isso também. Isso ninguém fala. Então, por isso que eu digo a você, a gratuidade – entendendo a gratuidade não como uma coisa de graça, mas paga indiretamente – coloca sempre discussões de fundo. Aí me perguntaram: mas nem nos regimes socialistas existiu.

CC: Porque não é pedagógico, é assistencialista...
LG:
É, olha, é um delírio. É uma coisa que eu estou para entender. Tem uma coisa muito forte na tarifa de ônibus. Repare bem, é na tarifa. Ela tem um poder simbólico, um emblema fortíssimo, arraigado, que eu me surpreendi, confesso a você. Eu fui até ingênuo, sob esse aspecto, quando “parti pro crime”, digamos assim. Eu imaginei que teria algumas dificuldades, mas não imaginei que seria uma coisa tão feroz. E teve ferocidades assim, graves. Eu me senti, em certos momentos, ofendido.

CC: Se você tivesse que explicar pra alguém o ponto mais importante para defender o transporte público e a tarifa zero... Qual é a linha de argumento central?
LG:
O direito de ir e vir, a liberdade de ir e vir. Esse é um negócio seriíssimo. Teoricamente, a liberdade de ir e vir. Eu acho fortíssimo. Sintetizando, é muito forte. E eu acho que é isso que pega. Se você desbastar isso, desbastar aquilo, você vai chegar aí. Na verdade, os dominantes não querem que os subalternos sejam iguais, essa é a verdade.

CC: Não podem freqüentar os mesmos lugares.
LG:
Não, não pode ir ao teatro. “Não pode andar junto de mim, ir aonde eu vou”. É muito forte isso.

CC: As pessoas vão descer do morro para conhecer a cidade, visitar família...
LG:
O que quiser, vale tudo. A pessoa sai desse impasse. E hoje, por exemplo, eu estava vendo, claro que isso varia com cidade, tem toda uma peculiaridade, eu vejo hoje que sem automóvel é difícil de viver. Em São Paulo é muito difícil, onde eu moro também é muito difícil. Porque nesses 45 anos de indústria automobilística, esta indústria também trabalhou pra isso acontecer. A cidade vai se conformando ao automóvel.