16 fevereiro, 2009

Por que não funcionam os núcleos de base

Os políticos falam todo o tempo de consulta às suas bases. Mas a realidade é que núcleos de base não funcionam em nenhum dos nossos partidos políticos, inclusive os de esquerda.

A experiência do PT, nos anos oitenta, teve vida brevíssima e sofreu o mesmo destino dos soviets na Rússia soviética.

Há uma explicação para isto.

O sujeito leva um tempão para aprender a lidar com o Windows. Se quando ele consegue esse feito, alguém lhe sugere mudar para o Linux, ele reage negativamente.

Este primeiro obstáculo para o funcionamento do núcleo de base é do mesmo tipo que a troca de programa de computador: o militante leva um bom tempo para inteirar-se a respeito da revolução socialista. No partido, ele aprende que esta só acontecerá quando as massas se levantarem, mas que as massas são inconscientes e desorganizadas, movimentando-se em função do estímulo de suas vanguardas. Aprende também que a vanguarda da massa não pode gerar uma consciência política se não for estimulada por uma força externa, surgida entre os dissidentes da burguesia agrupados em um partido: a vanguarda da vanguarda.

O partido tem que funcionar como um exército monolítico, sob o comando de uma direção eleita pelos militantes, mas, uma vez empossada, detentora do poder de dirigir as ações, na base do "centralismo democrático".

Ora, o primeiro requisito para que os núcleos de base funcionem é a mudança radical desse conceito de direção do partido revolucionário. Os núcleos só poderão ser dinâmicos e formadores de quadros socialistas se forem envolvidos permanentemente no processo decisório da agremiação.

Não basta eleger delegados para defender teses e candidaturas em plenárias, conferências e convenções partidárias, que se reúnem de tempos em tempos. A linha política decidida nesses conclaves é executada por meio de uma miríade de decisões particulares, o que abre caminho para distorção da vontade expressa das bases e para a usurpação do poder da base por oligarquias burocráticas. É indispensável, portanto, desenvolver formas de participação mais freqüentes de todos os militantes no processo decisório, se se quiser, de fato, que os núcleos de base funcionem.

É possível fazer funcionar um sistema em que, antes de tomar uma decisão, a direção partidária consulte todos os seus militantes?

Não há condições de responder a essa pergunta sem fazer experiências.

Elas se chocam com o pensamento conservador: "não há necessidade de andar procurando novidades, Lenine já disse tudo".

Este não é, contudo, o único obstáculo à mudança do conceito de direção nos partidos socialistas.

À resistência (aberta ou tácita) da "nomenklatura" soma-se a resistência da própria base, integrada que está por pessoas hereditariamente excluídas da participação em uma atividade que a classe dominante reservou para si. Pessoas dominadas por gerações e gerações tendem a introjetar a subalternidade da classe social à qual pertencem: simplesmente não acreditam que sejam capazes de entender as complexas questões do governo. Para elas, isto é assunto para doutores, advogados, engenheiros, pessoas "estudadas".

Mudar hábitos culturais é processo lento e trabalhoso. Não se completa se não for iniciado. Esta é a grande responsabilidade das lideranças que teimam em reviver o socialismo no século XXI. As derrotas que vêm sofrendo deveriam levá-los a, pelo menos, fazer algumas experiências.


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