03 junho, 2006

A vitória da Frente Classista é a vitória do Socialismo

“O parlamentarismo é o viveiro de todas as atuais tendências oportunistas da social democracia ocidental...Fornece fundamento às ilusões do oportunismo atual tal como a valoração exagerada das reformas sociais, a colaboração entre partidos e classes, a esperança de um desenvolvimento pacífico para o socialismo etc. ... Com o crescimento do movimento do Trabalho o parlamentarismo se transformou na mola impulsionadora dos carreiristas políticos. É por isso que tantos ambiciosos fracassados da burguesia afluem para os estandartes dos partidos socialistas ... (o objetivo é) dissolver o setor de classe ativo e consciente do proletariado na massa amorfa de um eleitorado.”
Rosa Luxembugo – Livro: Questões de organização da social democracia russa.

Para uma importante quantidade de militantes da esquerda brasileira pode passar inadvertido o acontecimento histórico registrado na 1ª Conferência Nacional do PSOL. É interessante salientar que, inclusive em sítios de internet internacionais, se dava como favas contadas o triunfo do projeto de Frente Anti-Neoliberal, e portanto, se descontava que o reformismo sairia vitorioso do Encontro. Até porque esse reformismo, procurou manipular a pequena força da Executiva Nacional do Partido rodeando constantemente à máxima figura da sigla, Senadora Heloísa Helena. Também porque obteve uma importante vitória na sua trajetória na busca de criar hegemonia na nova sigla de esquerda, empurrando o 1º Congresso Nacional para depois das eleições nacionais de 2006. No entanto, a Direção Provisória não havia deixado passar as alianças eleitorais almejadas pelos reformistas, já há alguns meses atrás. Também, o reformismo vinha de sofrer uma derrota alheia às internas do PSOL quando o Congresso Nacional voltou atrás em favor da verticalização eleitoral, ou seja, que os partidos mantenham as mesmas coligações em todos os estados. Mesmo assim, nem os mais otimistas líderes do processo fundacional do PSOL sonhavam com que a Frente Classista obtivesse uma vitória tão exuberante, de 110 a 44 votos, dentre os delegados à 1ª Conferência Nacional.

É necessário refletir a que se deveu esta vitória em certo modo inesperada que contou com o voto e o aval da líder alagoana. Primeiro, é bom salientar que os métodos para desestimular a militância mais radical para o debate, adiando em mais de um ano o 1º Congresso Nacional e substituindo-o pela Conferência, não teve em conta que muita da gente que lá estava já teve um treinamento de golpes partidários muito intensos dentro do PT. Segundo, que a maioria dos descontentes que saíram do PT e vieram desde os inícios a construir o novo partido são jovens e mulheres: um conteúdo muito diverso do envelhecido e envilecido PT. Terceiro, e muito importante, que Heloísa Helena faria prevalecer sua condição de psolista, o que significa que, ante o primeiro gesto da maioria dos delegados de votar numa política de total distanciamento do velho PT, não teimaria em votar naquilo que afirmasse essa condição de afastamento e confronto. Quarto, que a prepotência dos parlamentares que entraram na sigla depois de derrotados no último Encontro Nacional do PT e nos últimos dias de inscrição para obter a habilitação eleitoral, complicou ainda mais a possibilidade de que a base fundadora do partido e, inclusive a sua própria, os identificasse como integrantes do PSOL. Quer dizer que andaram na trilha errada e por um caminho desconhecido, sobre o qual não se deram o trabalho de estudar. Além do que, também, foram muito mal assessorados por altos dirigentes da sigla, que estando até mesmo desde o princípio desta, pensaram em termos absolutos na lide eleitoral e esqueceram a demanda de construção de uma Alternativa que estava reprimida na base que legalizou o partido. Em resumo, sua teimosia e deselegância política e seu desinteresse na construção ideológica, alinhavou e aumentou uma derrota quase improvável, a níveis de castigo histórico do qual terão dificuldades de se desembaraçar.

Aí o ponto fundamental da divergência que estava em curso entre uma frente e a outra, e o porquê do triunfo da Classista. A arrogância institucionalista em contraponto à luta dos que estão fora do espaço parlamentar que a população há tempo considera ilegítimo. Assistimos ao choque entre os que têm a eleição e a obtenção de mandatos como prioridade e fim pessoal e os que olham para o setor institucional como um campo importante, mas tático e nunca estratégico, muito menos final. Entre os que acharam que lhes correspondia por transcendência institucional entrar ao partido chutando as portas e os que, sendo parlamentares, NÃO se abstiveram e votaram contra a PEC da Previdência em 2003. Heloísa Helena, Luciana Genro e Babá votaram com os trabalhadores e mantiveram uma relação de construção com as bases e os espaços intermédios do partido.

O PSOL parlamentar/classista no imaginário popular, e sobretudo no imaginário dos militantes, são Heloísa Helena; Luciana Genro e Babá. O resto são o perigoso PT que entrou pela porta dos fundos sem a necessária legitimidade que um Congresso Nacional do PSOL lhe teria outorgado. Ou seja, os recém chegados se socavaram adiando o Congresso que lhes poderia ter ajudado a obter a vitória. A firmeza dos parlamentares que apoiaram os trabalhadores contra as ordens traidoras e vende-pátria do PT, e renunciaram a privilégios e que ao fim foram expulsos, no mesmo ato afirmou a existência de uma CLASSE TRABALHADORA em luta contra o sistema. De novo e de uma forma renovadora, em conspiração histórica com os jovens e agora, com o ingrediente decisivo das mulheres, como no resto da América Latina, observando as peculiaridades de cada país e suas acumulações históricas. A peleja estava ganha para um dos grupos e não era o reformista, porque o PSOL não nasceu reformista, pelo contrário, nasceu como inimigo do reformismo do PT.

Nasceu CLASSISTA por circunstância histórica e por conduta política, coerência e respeito pelo mandato outorgado aos parlamentares fundadores. As tentativas de disfarçar e sonegar esse caráter classista e frentista do PSOL sob o manto de uma Frente Anti-neoliberal, ou seja, que não renega do capitalismo e só pretende reformar sua forma atual, já decadente no continente, pretendia duas conquistas dentro do PSOL: colocar a agenda da reeleição dos derrotados do PT como solução aparente ao drama criado pelo parlamento burguês - chamado de cláusula de barreira e, segundo, perpetuar dessa forma, uma política já prometida nas últimas duas décadas de pequenas reformas que ilusoriamente permitiriam aos mais desfavorecidos ir aumentando seu “acesso à civilização”. Em nenhum momento a Frente Anti-neoliberal se propunha enfrentar o sistema empunhando o parlamento e a mobilização social como armas dinâmicas contra o imperialismo e contra o capitalismo, pelo contrário, se propunha, como o prometeu o PT, amenizar a saga de mazelas que sofre a população brasileira, numa situação de miserabilidade próxima à dos países que o Brasil contribui em invadir, como Haiti, por exemplo. Sem esquecer que para os reformistas antineoliberais o trabalhador não mais existe enquanto classe e muito menos enquanto fator determinante do seu próprio destino. Conciliação de classes à vista de novo, a Frente Anti-neoliberal foi derrotada na interna do PSOL por funcionários públicos mal pagos, por subempregados, por desempregados, por agricultores, por jovens sem futuro e por mulheres que assumiram um papel protagonista na construção da Alternativa. Essa visão de CLASSE AMPLIADA derrotou o institucionalismo decadente e o cretinismo parlamentar de forma vigorosa e festiva, que ao fim, todo ato de justiça implica num apelo de saúde e alegria.

O outro medo que subjazia no derrotado grupo da Frente Anti-neoliberal de ter que fazer palanque com o PSTU, tomou tal grau de protagonismo no cenário da Conferência, ou melhor, nos dias anteriores, que os reformistas acharam que o gesto de desistência do PSTU da participação na Vice de Heloísa Helena era o suficiente para demonstrar que o debate sobre uma Frente Classista era quase que desnecessário. Não compreenderam a verdadeira dimensão do que a Frente com o PSTU e o PCB representava e representa: uma radicalização da concepção partidária como ferramenta de enfrentamento ao imperialismo e ao capital. Um instrumento contra a continua perda de conquistas, não só para operar uma recuperação, mas para fazer uma agenda permanente de lutas que o PT deixou de fazer com estes mesmos senhores que, desde a PEC da Previdência em 2003, ficaram imobilizados dentro de seus gabinetes olhando a banda passar, ou melhor, as quadrilhas passar. Assim ficaram porque entanto o PSTU apresentou uma alternativa sindical no CONLUTAS, que teve seu apogeu no CONAT, eles ficaram amarrados a um monte de assessores sindicais prendidos às benesses da CUT. O PSTU se tornou no outro lado da moeda destes mandatários entanto, outra parte dos lutadores sociais,juntava assinaturas para legalizar a Alternativa PSOL, hoje acrescida pelo próprio PSTU que avançou na agenda sindical e os comunistas, que se reagruparam no Fórum do Rio para apresentar-se junto com o PSOL e consolidar uma proposta que seja capaz de polarizar nos próximos tempos com a oligarquia, a direita institucional, a traição petista, o tucanato e o pálido reformismo. Está nas mãos da base do partido defender esta vitória.

Portanto, é bom saudar a vitória da Frente Classista no PSOL porque significa um novo sopro de vida à classe trabalhadora, aos estudantes, às minorias, às mulheres protagonistas e à Liberdade dos Povos e do Brasil em particular.

Raul Fitipaldi – jornalista e fundador do PSOL no estado de Santa Catarina
Juan Luis Berterretche – escritor e fundador do PSOL no estado de Santa Catarina


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