06 março, 2007

Fala do Ivan Valente sobre o crédito p/ Reforma Agrária na Bolívia

Fala do Ivan Valente sobre a votação que abre crédito extraordinário, em favor do Ministério das Relações Exteriores, no valor de R$ 20.000.000,00,Destinando a atender famílias brasileiras que se dedicam a atividades extrativistas e à pequena agricultura no território da Bolívia, na faixa de fronteira com o Estado do Acre:


SR. IVAN VALENTE (PSOL-SP. Sem revisão do orador.):

"Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, eu me inscrevi para falar sobre este tema por questões muito simples. Primeiro, se existem brasileiros do outro lado da fronteira boliviana ou paraguaia, é um sintoma da existência de grandes problemas no Brasil. Segundo, temos que encontrar soluções para os problemas. Terceiro, se fosse para questionar, tínhamos que perguntar por que não há dinheiro para a reforma agrária, por que o Governo Lula não aloca mais recursos para realizar a reforma agrária no Brasil, por que não chama os brasileiros e deixa de pagar a dívida pública e de encher os bolsos dos banqueiros. Mas a isso a Oposição de direita não se refere.
Outra questão é a seguinte. A crítica que se faz decorre da alegação de que o Brasil está submisso à pobre Bolívia. Hoje, a Bolívia é governada por alguém dos povos originários, um lutador, um representante do povo. E foi governada pelos barões do estanho, pelo capital financeiro, pelos esfoladores do povo boliviano, e ninguém dizia nada.
Se é para questionar a política internacional do Governo Lula - e é -, vamos perguntar o que estamos fazendo no Haiti, naquele atoleiro, fazendo a mão de gato do imperialismo norte-americano com os nossos soldados. Mas a Oposição de direita não critica o dinheiro que foi para lá.
É aí que reside o problema. O problema não está na Bolívia. A solidariedade com os povos latino-americanos faz tremer uma parte da mídia brasileira, que é a maioria, que toca uma política neoliberal neste País.
Semana que vem, contaremos aqui com a presença de um genocida, que toca a política norte-americana levando a democracia com tanques e aviões, matando milhões de pessoas no Afeganistão, no Iraque e no Oriente Médio, ameaçando a todos. Eu quero saber se essas pessoas vão questionar aqui a submissão. E o Lula vai lá encontrar o Bush. Eu sou contra. Aí eu sou contra. E o Lula vai a Washington duas vezes.
Vamos parar de inverter os papéis! O que ameaça o Brasil não é a Bolívia. O que ameaça é o império americano. O que ameaça o Brasil é o capital financeiro e a especulação financeira, que impede o desenvolvimento autônomo e soberano deste País; não é a solidariedade entre os povos latino-americanos.
Aqui assistimos a uma inversão do debate das prioridades. Temos de parar de fazer isso.
Quero conclamar os Deputados do PSDB e do PFL a refletirem sobre esses argumentos, porque na verdade transformam o Governo Lula, que é de centro e centro-direita, em um Governo de esquerda, porque quer ser solidário. É o contrário. Os senhores têm que atacar a política norte-americana, a "direitização" do Governo Lula, e pedir ao Senador Arthur Virgílio para não elogiar a política do Presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. É isso o que temos de fazer para sobrar dinheiro para fazer reforma agrária, para fazer políticas sociais e parar de encher os bolsos dos banqueiros internacionais.
O que acho mais estranho é que vejo poucos Deputados do PT virem à tribuna dizer o que dissemos durante 25 anos, para botar o pensamento conservador de direita na parede. Isso é o que temos de fazer. Não é porque há famílias brasileiras que neste momento têm dificuldades - e é bem provável que haja problemas na resolução dessa situação com a Bolívia - que vamos deixar o problema desses 20 milhões de reais, quando o Brasil paga 180 bilhões de reais de juros por ano e não faz reforma agrária em um País onde existem milhões de pessoas querendo ocupar a terra para sua função social.
Por isso, companheiros, somos pela admissibilidade da medida"

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