15 março, 2007

Juventude e Militância

26/02/2007
Em sua “Carta à Juventude”, composta por apenas três parágrafos, Trotsky trata duas questões de maneira bem breve, porém com muita profundidade: Juventude e Militância. Já no segundo parágrafo desta carta, muitos se confundem quando ele se refere aos “velhos de 20 anos”. Obviamente ele não pretendia estabelecer uma caracterização etária. Mas se referia, na verdade, àquela parcela da juventude que não tem disposição de se entregar, aos jovens sem ânimo, sonhos e sem fé.
Um partido, sindicato, campo político, grupo terrorista ou qualquer outro tipo de organização que pretende mudar a sociedade, não sobrevive sem militância. Sem essas pessoas dispostas a se sacrificarem, capazes de decidirem e certas de que não receberão nada de material em troca, as organizações e organismos não justificam sua existência.
Juventude e militância não são, portanto, termos nominais. Possuem vida, dialética. Muitos se declaram “militantes” ou “revolucionári@ s” apenas por pertencerem a um grupo ou entidade ou por estarem filiados a qualquer partido. Da mesma forma muitos idosos declaram-se “juventude” apontando em suas carteiras de identidade mostrando terem menos de 30 anos.
Durante a revolução russa, muitos jovens assumiram papeis de protagonismo, mesmo antes dos 20 anos. O estado socialista cubano possui em sua gerência e nos ministérios parcelas de jovens da geração pós revolucionária. Os “velhos de 20 anos” eram os que ficavam dentro das salas de aula enquanto a revolução acontecia. Eram os que ficavam em casa guardados por Deus. Eram os homens que não sonhavam com a tal “socialização dos meios de produção”, mas sim com um bom emprego, bem remunerado, uma esposa “politicamente correta” e um automóvel. As “velas de 20 anos” eram as que, ao invés de reivindicarem a emancipação e seus direitos, reivindicavam bons casamentos, marido carinhoso, filhos graciosos e um microondas.
Os partidos socialistas e organizações revolucionárias estão abarrotadas de “velh@s de 20 anos”. Mais precisamente aquel@s “filiados” e “filiadas”. Que optam sempre pelas tarefas mais simples e que não se aprofundam na teoria, ou aqueles esquerdistas que acham que o radicalismo se mede através do discurso “soprano”, enfim, o discurso que dá o tom mais alto. Se reivindicam donos da tradição leninista, mas evitam quase sempre participar das ações combativas e de massa.
Já sobre a militância, na mesma carta Trotsky nos ensina que “o sacrifício somente não é suficiente. É necessário ter uma clara compreensão do curso dos acontecimentos e dos métodos apropriados para a ação”. Eu diria, inclusive, que isso é o mais importante para qualquer militante, e concordo que a compreensão dos acontecimentos e dos métodos de ação, só é obtida através da teoria e da experiência. Decepcionam- se, pois, os meros tarefeiros, bate-estacas ou agitadores! Para todos os herdeiros de Marx, “sem teoria revolucionária, não existe ação revolucionária” .
Sobre experiência, mais uma vez não nos referimos à idade. Muitos velhos de partido ou sindicato ainda não atingiram essa compreensão de que nos referimos. Mas esse tipo de compreensão, experiência e teoria são imprescindíveis à juventude revolucionária. Sob pena de “baterem com a cabeça na parede e converterem- se em burocratas velhos de 20 anos”. Essa tarefa é difícil, mas cabe a nós cumpri-la bem!
É certo que representamos uma parcela da juventude mais resoluta. É certo que as dificuldades da militância hoje são diferentes das de quando Marx escreveu n´O Manifesto Comunista que a liberdade dos jovens está condicionada a sua independência econômica para com os pais e familiares. Ainda hoje temos esse problema, porém uma enorme parcela da juventude já se emancipou economicamente, e hoje luta contra um turbilhão de novos entrepostos: O dinheiro, o capital, trabalho e as usurpações do capitalismo.
Conversando ontem com um amigo anarquista bem eclético, percebia seu desespero em tentar encontrar novas formas de mobilizar as pessoas, atrair os jovens e se comunicar com os vários setores do movimento estudantil. Mas será mesmo esse o nosso maior problema? Acreditar nisso seria subestimar o capital. Seria ainda desconsiderar o elemento mais fundamental dos nosso problemas. O fato das pessoas não quererem nem saber. Centenas de páginas em O CAPITAL problematizam esses fetiches, a aparência, a essência e etc. Mas não entrarei nesse mérito aqui. Não citarei Marx, nem Lênin, nem Trotsky, nem Gramsci e nem o Osvaldo Coggiola (risos). Citarei algo mais poético. Mario Quintana disse uma vez que: “O maior de nossos problemas é que ninguém tem nada a ver com isso”.
Existem vários níveis de comprometimento com essa causa, que não é nossa, mas que abraçamos. Utilizamos cursos de formação, seminários e etc, para tentar produzir e reproduzir organicidade. Porém nesse final de texto abandonarei o meu objetivismo, próprio dos instrumentais que recebemos para analises, para lançar uma afirmação questionadora. Abandono sem remorso, pois abandono ao mesmo tempo a perspectiva da totalidade, para dizer a companheiros, companheiras, camaradas, amigos e amigas: Cabe a cada um decidir a qual nível de comprometimento pertencerá. Cabe a cada um aqui decidir se será parte da solução, ou se será parte do problema. Se seremos velhos de 20, 22, 24 ou 25 anos, ou quem sabe se seremos um dia jovens de 70, 72, 74 e 75 anos.
T.


"Porque metade de mim é o que eu penso, mas a outra metade é um vulcão"
Tadeu Guerzet
Contraponto
Ciências Econômicas
DCE - UFES

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