19 janeiro, 2007

Chávez apóia ocupação no Brasil de empresas prestes a quebrar

Uma amostra do projeto socialista do presidente Hugo Chávez já cruzou as fronteiras da Venezuela e chegou ao Brasil. Mais precisamente a três fábricas no interior de Santa Catarina e de São Paulo.

As três empresas, do setor plástico, são administradas por funcionários ligados a um movimento, também de orientação socialista, que prega a "ocupação" pelos empregados de companhias prestes a fechar as portas, como uma tentativa de manter os postos de trabalho. As fábricas já receberam um carregamento de matéria-prima subsidiada do governo venezuelano. O lote para este ano deve chegar nos próximos meses, segundo a coordenação do movimento.

Chávez - que durante seu discurso de posse na semana passada disse que levará a Venezuela ao "socialismo do século 21" - é um entusiasta dessas "ocupações". E apóia, na Venezuela e em outros países latino-americanos, movimentos semelhantes. Há dois anos, chegou a declarar num encontro em Caracas: "Fábrica quebrada deve ser fábrica ocupada pelos trabalhadores" . Há dezenas de empresas ocupadas na Venezuela atualmente. Pelo menos 12 já receberam injeção de recursos do governo - algo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva resiste em fazer, apesar da reivindicação dos trabalhadores das fábricas.


As empresas brasileiras beneficiadas por Chávez são Cipla , Interfibra (ambas em Joinville, SC) e a Flaskô (em Sumaré, SP). Ao todo, elas empregam 1.300 funcionários - 900 só na Cipla - e têm entre seus clientes grandes marcas como Mercedes-Benz e Petrobras .


O primeiro carregamento, de polietileno de alta densidade de sopro e de alto peso molecular de sopro, veio depois que representantes do chamado movimento das Fábricas Ocupadas participaram do 1 Encontro Latino-Americano de Fábricas Recuperadas por Trabalhadores, ocorrido em em outubro de 2005, em Caracas. Os brasileiros pediram e receberam a ajuda do presidente venezuelano, que participou do evento - e, à moda de Lula, posou com o boné do grupo brasileiro.


Pelo acordo, a Venezuela aceitou enviar o material com condições muito mais vantajosas do que as oferecidas pelos fornecedores brasileiros: um ano de carência antes do primeiro pagamento. A Braskem é hoje a principal provedora de matéria-prima para essas empresas.


"Estamos rediscutindo o fornecimento para este ano para as três fábricas. E, a partir de fevereiro ou março, teremos um novo carregamento" , diz Serge Goulart, coordenador do Fábricas Ocupadas.


Goulart - um veterano militante da esquerda brasileira e membro do diretório nacional do Partido dos Trabalhadores - não revela qual a quantidade ou o valor das remessas venezuelanas. "Faz parte do acordo manter em sigilo alguns dados", disse.


Além do pagamento, a contrapartida brasileira envolve transferência de tecnologia e conhecimento para a Venezuela, em um projeto de construção de uma fábrica de casas populares feitas de PVC - a Petrocasa, que está prestes a começar a operar em Valência, no Estado de Carabobo - e de um estudo sobre um projeto para a fabricação de tubos epóxi para transporte de petróleo.


A ajuda de Chávez às três fábricas tem uma motivação muito mais ideológica do que econômica. "As riquezas naturais [petróleo e seus derivados, no caso o polietileno] são também para ajudar os irmãos da América Latina", disse ao Valor o cônsul venezuelano em São Paulo, Jorge Luis Durán Centeno. "A relação com as fábricas ocupadas é uma forma de ajudar a comunidade, de dar um tratamento diferente", acrescentou ele. Para Centeno, "o presidente Chávez teve uma sensibilidade ampla em ajudar esse tipo de iniciativa".


Centeno disse ainda que as relações internacionais são feitas geralmente em nível governamental, mas que os apoios de movimentos sociais de diversas partes do mundo ao governo Chávez está mudando esse quadro. "Chávez quer que esse movimento [de aproximação] não aconteça só em nível de governo."


No ano passado, numa demonstração rara da importância que as fábricas conquistaram em Caracas, Centeno esteve pessoalmente nas três fábricas ocupadas ao lado do então ministro da Indústria Plástica da Venezuela, Elias Jaua, atualmente ministro da Agricultura e da Terra. Foi Jaua quem iniciou o trabalho de apoio direto às indústrias recuperadas, segundo o cônsul. O movimento negocia agora diretamente com a petroquímica venezuelana Pequiven , com o aval de Chávez, e com a atual ministra da Indústria, Cristina Iglesias.


O diplomata afirmou ainda que Caracas tem prestado apoios a movimentos de ocupação de fábricas em outros países da região, mas disse não conhecer detalhes sobre esses laços. Movimentos como esses já existem na Argentina, no Uruguai, na Bolívia, no Paraguai e na Venezuela. Mas Chávez assumiu o papel de uma espécie de patrono dos grupos. "Chávez é o único governante da América Latina que está disposto a se envolver e ajudar as fábricas ocupadas", diz Goulart.


Por enquanto, o movimento brasileiro de "ocupações" tem apenas as três fábricas. Mas sabe que se houver mais adeptos, poderá continuar contando com o apoio de Chávez. Ao ser perguntado se há outras iniciativas como essa voltada para o Brasil, Centeno disse que não, mas avisou: "O governo está totalmente à disposição de ouvir outros pedidos de apoio."


Mais em www.fabricasocupada s.org.br



Empresa de SP ainda dá prejuízo e funcionários querem ajuda do Estado
De São Paulo
17/01/2007


Foto. Sergio Zacchi / Valor
O eletricista Antônio Rodrigues, da Flaskô: empolgação pelo estilo Chávez
Nos corredores da Flaskô, a única fábrica apoiada por Hugo Chávez em São Paulo, nada indica, à primeira vista, que a empresa é comandada pelos próprios funcionários. Ainda há chefes e operários, os horários dos turnos continuam sendo registrados, a equipe de vendas negocia normalmente com clientes e a fábrica está na fase final da certificação de ISO 9000.


Mas, por trás das aparências, há um processo de comando e decisão nada convencional numa economia capitalista. A instância mais alta é a Assembléia Geral, composta por todos os 95 funcionários. Abaixo dela está o Conselho de Fábrica, com membros eleitos, que fazem reuniões semanais. As decisões mais difíceis - como quais contas pagar ou sobre cortar o próprio repasse previdenciário - seguem para a Assembléia.


Em 2003, depois de meses sem pagar salário, com cortes constantes de energia por falta de pagamento e quilos de processos trabalhistas por sonegação previdenciária, os donos da Flaskô (e também da Cipla e da Interfibra), Luis e Ancelmo Batschauer, estavam a caminho de fechar as portas da fábrica. Juntos, os dois são alvo de 430 processos em Santa Catarina, muitos por sonegação previdenciária.


Os empregados da Flaskô decidiram passar a tocar a empresa para tentar conseguir os recursos referentes à dívida trabalhista. O Valor tentou, sem sucesso, falar os Batschauer. O movimento é contra criar uma cooperativa. Não querem assumir o passivo dos antigos donos e querem manter direitos trabalhistas.


A inciativa remonta a ocupações feitas por anarquistas, comunistas, socialistas na Europa nos anos 20 e nos anos 60 e 70. Na Flaskô, muitos funcionários são admiradores Chávez. "Se os patrões no Brasil continuarem a explorar e a embolsar, a resposta vai ser com a de Chávez, que está implantando o socialismo na marra", diz o eletricista Antônio Rodrigues, de 58 anos.


A empresa vive no vermelho desde antes de os funcionários a assumirem, em 2003. O faturamento mensal é de R$ 1 milhão, e as despesas, $ 1,2 milhão. Como a maior parte da dívida é com o governo, os funcionários querem que o Estado estatize as três fábricas, mantendo-as sob o "controle operário". A opção é descartada por Brasília. (M.M.S.)


"A opção é descartada por Brasília"...Mas perdoar a dívidas dos usineiros latifundiários pode né?? FDP´s

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