22 maio, 2006

ROMPER E CONTINUAR TRILHANDO O CAMINHO DA LUTA SOCIALISTA

“Não estamos perdidos,
Pelo contrário,
Venceremos se não tivermos
desaprendido a aprender”
Rosa Luxemburgo.


O Partido dos Trabalhadores nasceu das lutas sociais, da dura resistência contra o regime militar e, sobretudo, da vontade de independência política dos trabalhadores frente à dominação do sistema capitalista. Proclamou em seu Manifesto de lançamento, que sua participação em eleições e suas atividades institucionais se subordinariam ao objetivo de organizar as massas exploradas e suas lutas, visando à construção de uma sociedade igualitária, sem explorados nem exploradores.

Sua história se confunde com a construção de importantes organizações de defesa da classe trabalhadora, como a CENTRAL ÚNICA DOS TRABALHADORES – CUT, a CENTRAL DE MOVIMENTOS POPULARES – CMP, o MOVIMENTO DOS SEM TERRA - MST e muitos outros instrumentos de lutas espalhados pelo país inteiro.

Juntos, apoiamos e construímos lutas fundamentais pela redemocratização do país, como as campanhas memoráveis pelas Diretas Já e a do Fora Collor, mantendo uma postura clara contra a implementação do projeto neoliberal e a política de privatizações dos governos Collor e FHC. Realizamos inúmeras manifestações sempre motivados pela esperança de derrotar a hegemonia capitalista, tendo no Partido dos Trabalhadores o símbolo dessa esperança.

Todavia, o PT foi abandonando seu compromisso de ruptura com a ordem capitalista, assumindo como prioridade a ação institucional em detrimento da organização social e da luta. A identidade socialista, característica fundamental do partido desde a sua fundação, foi gradativamente substituída pela lógica do “partido da ordem”; “das personalidades”; “dos notáveis”; “das performances individuais em detrimento das ações coletivas”. A acomodação das vitórias eleitorais e a ampliação de alianças com partidos tradicionais e de direita veio coroar esta nova postura do PT.

Em 2002, com a chegada do partido ao Governo Federal e também ao Governo do Estado do Piauí, o quadro de degeneração se acentuou ainda mais. Sob o pretexto da governabilidade, partido e governo se confundem e fazem uma opção clara: a opção de ser governo a qualquer custo, mesmo que o preço seja a ruptura com suas bases históricas de sustentação.

Assim, desde o início do governo, Lula mantém na íntegra a política econômica de FHC, cumpre todos os acordos com o FMI e impõe a brutal Reforma da Previdência, retirando direitos essenciais da classe trabalhadora e preservando os privilégios dos sonegadores e devedores da previdência. Intensifica o projeto neoliberal com aprovação das leis de falência e dos transgênicos, da reforma tributária e das Parcerias Público Privadas, fortalecendo o capital e transferindo ao setor privado serviços que caberiam ao Estado.

Numa debandada histórica, o PT inverte todas as práticas partidárias, com deliberações de cima para baixo, e sepulta os debates internos. Constrói alianças fisiológicas, incentiva o inchamento imoral da legenda para obter maioria. No Governo, disponibiliza cargos e vantagens, mesmo as mais condenáveis, beneficiando políticos corruptos e também se corrompendo, privilegiando parentes, amigos e apadrinhados. No movimento sindical impõe uma camisa de força que paralisa a classe trabalhadora e transforma a CUT e muitos sindicatos em entidades dóceis aos patrões e ao governo.

Raiva, desilusão, indignação, revolta, perplexidade são reações de filiada(o)s e simpatizantes do Partido dos Trabalhadores diante do envolvimento de dirigentes, parlamentares e assessores ligados ao PT em corrupção, jogando partido e governo numa grave crise. Podemos dizer que o PT é o principal protagonista de uma das maiores crises (política, ideológica, ética e moral), vividas pela esquerda brasileira e pelo próprio país.

Como se não bastasse, o PT intensifica a tática da ditadura interna contra filiada(o)s. Transforma militantes petistas em vilões, e os inimigos históricos são agora os “bons mocinhos”. No processo de resistência, parlamentares que desafiaram essa lógica foram punidos de forma autoritária e burocrática: Heloísa Helena, Babá, Luciana Genro e João Fontes, foram expulsos, outros, suspensos da legenda partidária – um marco histórico na descaracterização ideológica do partido e no desrespeito à democracia e pluralidade interna. Destacamos que desde a aprovação autoritária e tumultuada da reforma da previdência, em dezembro de 2003, o PT vem perdendo inúmeros militantes históricos.

As classes dominantes tentam desqualificar todo o pensamento de esquerda. Como expressa o manifesto da Assembléia Nacional Popular de Esquerda “A burguesia regozija-se com o naufrágio do PT e sob a ótica de que ‘todos os políticos são iguais’ aproveita o momento desfavorável da classe operária para negar a possibilidade de transformação social”. Reafirmamos enquanto militantes da esquerda socialista, que não aceitamos que se aproveitem da terrível crise do PT para enxovalhar e fechar o horizonte da luta socialista.

Diante desse quadro de degeneração da estrutura partidária, iniciamos um amplo processo de reflexões sobre a trajetória do PT. Após vários e longos debates, concluímos pelo seu esgotamento. Acreditamos que o PT perdeu sua identidade política e ideológica com a classe trabalhadora, não sendo possível fazer com que ele reassuma suas bandeiras históricas. Portanto, não nos reconhecemos mais nessa legenda partidária, pois nos mantermos no PT só contribuiria para semear ilusões sobre o seu futuro além de proliferar a enorme confusão de que ainda é possível disputar os seus rumos. Saímos do PT, respeitando a decisão dos que permanecem, numa compreensão de que nem todos perderam sua identidade ideológica.

O manifesto da Consulta Popular nos lembra que o impacto da crise gera um rearranjo das forças de esquerda e o surgimento de novas organizações: partidos, articulações sindicais e movimentos sociais surgem, gerando um importante debate ideológico entre os militantes. Entendemos que nesse momento a unidade entre as forças de esquerda não se dará em torno de um mesmo instrumento político ou mesmo de uma única tática.

Com essa clareza pensamos que o principal desafio da esquerda nesse momento é reunificar e reconstruir bandeiras que mobilizem a sociedade e que resgatem os sonhos da militância. Reelaborando as lutas socialistas e reorganizando a resistência ao neoliberalismo somos capazes de reunir forças e resgatar um novo projeto popular para o país. Continuamos na luta socialista ao lado de quem sempre estivemos: da classe trabalhadora.

“Sem medo, continuo crendo no futuro, ainda que esse futuro seja sombrio como uma cela e duro como um pão que precisa ser molhado de lágrimas. Depois desse futuro, haverá outro futuro – e esse é o futuro que me interessa”.
Cony

Teresina, 13 de maio de 2006.

Madalena Nunes – PT Floriano; Adriana Sousa –PT São João do Piauí; Gisvaldo Oliveira – PT Teresina; Élcio Francisco – PT Teresina; Jonas Moraes – PT Paes Landim; Janete César – PT Teresina.


Reggae e Socialismo: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=12329912

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