15 outubro, 2006

Sobre o segundo turno presidencial

Bruno Meirinho,
estudante de Direito da UFPR
DCE-UFPR

Primeiro, quero mencionar o quadro de retrocesso que tivemos nessas eleições. Figuras marcadas da direita tradicional se elegeram com larga vantagem de votos e a esquerda, em um sentido geral, sofreu um processo de desmoralização. Vemos Maluf e Collor eleitos, Eduardo Suplicy sofrendo para derrotar o Afif Domingos para o senado em SP e aqui no PR os tucanos e pefelistas disparando de votos enquanto figuras petistas mais ligadas aos movimentos perderam votação, como o Rosinha
e a Dra. Clair, esta que por sinal não foi reeleita deputada. O Brasil e, em especial, o Paraná têm ficado mais conservadores e duvidando das candidaturas de esquerda. É assim inclusive no cenário do nosso movimento.

Acredito que é uma crise da falta de identidade da esquerda nos últimos anos, especialmente sob o governo Lula. Ao assumir uma agenda confusa e marcada pela manutenção das pautas tucanas na política econômica, este governo estabeleceu uma crise entre a própria esquerda, que se fragmentou. Para completar o cenário, as denúncias de corrupção feitas pelos próprios corruptos centenários dos partidos tradicionais (tipo "o sujo falando do mal lavado") desenharam uma situação de confusão completa na consciência das pessoas, afinal, para todos a esquerda ao menos se pautava pelas virtudes éticas.

As alternativas?

No cenário eleitoral, a confusão se manteve, com o debate centrado especialmente no temário da ética, coube ao PSDB o papel de denuncismo e ao PT a defensiva. Vedoins, sanguessugas e mensalão é o que mais se ouvia. O debate sobre projetos de país foi superficial e não conseguiu demonstrar as diferenças entre Lula e Alckmin.

Essas diferenças, na minha opinião, residem mais no campo do simbolismo, do referencial histórico e subjetivo das duas
candidaturas. E todos sabemos como símbolos são mais fortes que conteúdo. Uma forte diferença simbolica elimina, para a consciência das massas, semelhanças de conteúdo.

E foi nesse sentido que defendi e votei em Heloísa Helena no primeiro turno, também em especial por nossa ação no movimento, que pautou diversas críticas à condução do atual governo, à reforma universitária, da previdência e demais reformas neoliberais que surgem no horizonte bem como a essa postura de ajuste fiscal que prejudica as áreas sociais e favorece especialmente os banqueiros. No entanto, o símbolo Heloísa Helena ainda não foi tão forte quanto os
outros dois.

E agora este segundo turno reduziu as alternativas às duas opções simbólicas e, talvez na opinião de alguns, ainda existam mais diferenças.

Quais as diferenças?

Recebi um e-mail de alguém fazendo campanha contra o Alckmin lembrando que ele privatizou as estradas em São Paulo e agora quer privatizar as estradas no Brasil. É verdade, não tenho dúvidas disso. O PSDB é privatista e quer vender tudo, até o "aerolula" (rs). Pois hoje mesmo ouvi o Lula em entrevista na rádio Band sendo questionado sobre as concessões da BR 116 e 101 que serão pedagiadas, e ele afirmou que tem que ser pedagiadas mesmo, mas com um preço não abusivo e blábláblá. Ou seja, se a diferença é quem vai privatizar, essa não existe. O próprio governo Lula fez a lei das Parcerias Público Privadas que são um mecanismo de privatização.

O governo Lula vai aprofundar a reforma da previdência, vai fazer as reformas univesitária, trabalhista e sindical, políticas neoliberais do receituário imposto por nossos credores do sistema financeiro. Alguns vão dizer que vai ser mais "light" que o PSDB. Pode até ser, mas não consigo visualizar uma perda de direitos "menos pior", mais "light". Qualquer reforma neoliberal, indepentende da intensidade, é um mecanismo desestruturador do Estado, e é disso que estamos falando.

A reorientação do nosso projeto de país passa por rediscutir a dívida pública e pararmos de estufar os bolsos do capital financeiro.

Só assim podemos realmente investir em saúde, educação, geração de emprego e renda, seguridade social, etc. Infelizmente, isto não está na pauta do Lula.

Para resumir: Alckmin diz gostar do neoliberalismo, usa gravata amarela e tudo mais, já Lula diz que neoliberalismo é inevitável, é preciso trabalhar com esta realidade. Duas diferenças que ficam no campo do discurso, no fundo significam as mesmas coisas, mas com máscaras diferentes, são símbolos diferentes. Um foi operário grevista, outro é médico almofadinha, e por aí vai.

Então, o que fazer?

Do que foi dito acima, NADA justifica votar no Alckmin. Concluir isso seria absurdo. O tucanato é responsável por afundar nosso país no neoliberalismo e vender o patrimônio do povo. Com certeza o retorno da direita tradicional do PSDB/PFL é detestável de merece todo o repúdio. Só o que eu acho fundamental deixar claro é que não deve haver nenhuma esperança no Lula também. Em termos de conteúdo, o seu programa é o mesmo dos tucanos, como ele mesmo disse no debate da Band: o Alckmin deveria reconhecer e agradecer que o governo Lula aprovou a reforma da previdência que os tucanos queriam mas não conseguiram
realizar.

Tenham a clareza que Lula reeleito realizará privatizações, reformas neoliberais desestruturantes e assinará a ALCA, como aliás já tentou fazer no último governo.

Por isso eu digo aos que vão votar no Lula que não depositem nenhuma confiança nesse voto, o único benefício que ele apresenta é simbolico, pois na prática teremos que pressionar desde o começo contra a continuação das políticas neoliberais.
E é só esse o recado, eu espero que votando no Lula ou votando nulo, estejam todos firmes para as críticas.

Por ora, meu voto é nulo, mas estou aguardando a apresentação do projeto político do governo Lula, e posso repensar meu voto caso ele assuma alguns compromissos, como:

- Retirar os vetos de FHC ao Plano Nacional de Educação.
- Não apresentar nenhuma reforma trabalhista, sindical ou da seguridade social.
- Não privatizar a Petrobrás e os bancos públicos bem como paralizar os leilões de reservas de petróleo.
- Publicar a nova tabela com os índices de produtividade agrícola, que é uma demanda do MST.

Claro que eu não faço nenhuma diferença e ele não vai fazer isso por mim apenas. É só um comentário, uma condição. Não são grandes coisas, e são demandas bastante possíveis e realistas que podem fazer mais pessoas confiarem um pouco que existe realmente alguma diferença.


Reggae e Socialismo: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=12329912

Voto Helo?sa Helena - Sergipe: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=12329912

Fotolog: http://ubbibr.fotolog.com/mgabriel/

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