Conheço a Ana Julia Carepa e sei que ela não compactuou - nem compactuaria - com a monstruosidade cometida contra a jovem L15.
Em Artigo que escrevi para uma revista, culpei a sociedade brasileira pelo crime - uma sociedade que aceita passivamente a “banalização do mal”.
Porém, não é este o objeto deste artigo. Quero examinar o fato sob outro ângulo - um ângulo importante para os partidos de esquerda: qual a racionalidade de exercer cargo executivo nesta conjuntura política?
Assume-se um cargo executivo para realizar um programa - o que depende de autorizações legais, recursos humanos e financeiros.
Na estrutura do Estado brasileiro, a maioria dessas condições depende da esfera federal. Governadores e prefeitos atuam no interior dos parâmetros fixados na órbita federal.
Nas condições atuais, a obediência a esses parâmetros não permitem que esses governadores e prefeitos façam avançar a luta pela implantação do socialismo.
Ora, o que justifica a disputa de espaços na estrutura do estado burguês é essa possibilidade de avanço, se ela inexiste, qual a lógica de assumir um posto executivo?
A experiência dos governos paradigmáticos que alicerçou o crescimento do PC italiano, terminou, como vimos. Além disso, nossos prefeitos e vereadores não disporiam dos recursos de seus congêneres italianos nos anos sessenta.
Porisso, entendo que, enquanto a conjuntura do país não mudar, os partidos de esquerda não devem exercer mandatos executivos. Nosso lugar é no legislativo, a fim de usar a tribuna para dissecar a dominação burguesa e colocar as prerrogativas e imunidades parlamentares a serviço da luta popular.
Entretanto, 2008 está às portas e não teremos como fugir da necessidade de lançar candidatos a Prefeito.
O que foi dito acima deixa ver bem claramente qual deve ser o objetivo de nossas campanhas majoritárias: um palanque de denúncia e de propaganda do socialismo.
Mas isto não quer dizer discurso panfletário ou doutrinário. Precisamos analisar os problemas da cidade e propor as nossas soluções. Nessa hora, entramos em terreno escorregadio, porque, se não tomarmos cuidado, nosso discurso se aproximará muito do discurso dos candidatos da direita e o eleitor não fará a distinção que precisa ser feita entre a nossa mensagem e a deles.
Provavelmente, os problemas que nossos candidatos identificarão serão os mesmos levantados pelos outros candidatos, mas na identificação das causas e nas propostas de solução, as diferenças são substanciais e devem ser recalcadas. Sobretudo, não podemos iludir a população com a idéia de que os problemas podem ser solucionados sem mudança substantiva na ordem capitalista.
O cumprimento desta condição não é fácil, porque não podemos cair no discurso facil da estatização e da coletivização como panaceia para todos os problemas. Este discurso economiza o esforço de examinar os problemas a fundo e de propor soluções efetivas. Para evitar esse perigo, precisamos desenvolver o conceito de solução concreta: solução perfeitamente viável do ponto de vista das condições objetivas (o que tem de ser demonstrado), mas inviáveis no sistema capitalista por causa dos interesses das forças da burguesia nacional e local ( os quais deverão ser identificados e denunciados com nome e sobrenome).
So assim, os eleitores se interessarão pela nossa campanha e passarão a nos olhar, mesmo que ainda não nos dêem o seu voto, com respeito.
Isto é avanço. O outro modo é eleitoralismo. Nossa Conferência eleitoral precisa deixar as duas coisas bem claras.
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